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Obrigada? Não, obrigada

por Carla Hilário Quevedo, em 23.06.09

Ainda é cedo para saber se este ímpeto de mudança das leis eleitorais é um entusiasmo passageiro ou apenas um tema de conversa como outro qualquer. Seja como for, preciso de desabafar a minha oposição visceral ao voto obrigatório. Primeiro há que perceber que a liberdade de expressão inclui o direito à não expressão. Se os níveis de abstenção são elevados (interrompo só para dizer que simplesmente não acredito que haja 9,6 milhões de eleitores em Portugal) não é por o povo ser preguiçoso, ou por não ter a mínima vontade, nem o mínimo interesse nem a mais vaga esperança nas eleições. Se o mundo da política se tornou aborrecido e pouco mobilizador, a culpa não é com certeza dos eleitores. No entanto, se esta falta de participação continua a preocupar os partidos, sugiro que deixem de convocar as pessoas para votar ao domingo, que é um dia tradicionalmente da família, e marquem as eleições para um dia qualquer da semana, como acontece nos Estados Unidos. Não garanto que a abstenção diminua (até porque nos Estados Unidos há muitos abstencionistas convictos), mas era muito mais civilizado e natural do que a alternativa compulsiva e paternalista do voto obrigatório.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 19-6-09.

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publicado às 07:30