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Rádio Blogue: Conversas privadas

por Carla Hilário Quevedo, em 05.02.10

Esta semana o país ficou a saber que o primeiro-ministro, José Sócrates, o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, e o ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, almoçaram no restaurante do Hotel Tivoli. No mesmo local almoçavam Nuno Santos, director de Programas da SIC com Bárbara Guimarães, colaboradora da estação, e ainda outros clientes anónimos. Ficámos a saber o que seria um pormenor iníquo da vida portuguesa porque a dada altura José Sócrates terá dito em alto e bom som o que pensava a respeito de Mário Crespo. Alguém incomodado com a conversa, contou o que ouviu ao jornalista da SIC Notícias, entretanto tratado de «mentalmente débil» para baixo, e Mário Crespo descreveu o relato na sua coluna no Jornal de Notícias. O seu texto de opinião não chegou a ser publicado. Ora, o que têm em comum as cinco pessoas que almoçavam no Tivoli? Todas são figuras públicas. As diferenças entre elas são igualmente evidentes: nem todas têm responsabilidade sobre os destinos da nação. Esta diferença curiosamente não parece contar muito quando se fala da vida privada dos políticos. É como se fôssemos todos iguais. Pois não somos. Quando um Primeiro-ministro se refere publicamente seja ao que for ou a quem for, perdeu o direito à privacidade. Sobretudo quando nem sequer se preocupa em baixar a voz. Por uma mera questão de bom senso, mesmo a mais anónima das criaturas se coíbe de insultar ausentes em pleno restaurante, pois sabe que isso pode ter consequências desagradáveis. Mais que a não publicação do artigo de Mário Crespo ou mesmo que os termos exactos da conversa, interessa perceber qual é afinal o valor das palavras de um alto dirigente do país, e se tem direito a ter conversas privadas em público em que revela um desagrado anormal por quem não concorda com ele. Desvalorizar a conversa, remetendo-a para a esfera privada, é uma forma de desresponsabilizar o autor das suas palavras. Qual é o limite da privacidade de um governante? O que significa invocar o direito à privacidade num lugar público?

 

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publicado às 19:40