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por Carla Hilário Quevedo, em 02.09.06
Eu hoje acordei assim...

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Eva Mendes

... caríssimo Jansenista, welcome back! Venho a correr falar-lhe do último Of Beauty and Consolation que vi (o programa com Martha Nussbaum foi muito, muito bom - que pena não ter gravado! - e na sequência da leitura do seu post decidi que chegou a altura de ler o livro de que fala). Aconteceu há já uns dias e tratou-se da primeira e segunda partes (de três) do encontro final entre 20 participantes no programa. A pergunta era (cito de memória, com todas as falhas que o exercício implica): "Valerá a pena viver a vida?" Respondem Martha Nussbaum, George Steiner, Richard Rorty, Roger Scruton, Germaine Greer, Simon Schama, um escritor nigeriano, um físico com cara de muito boa pessoa, uma escritora russa Tatjana qualquer-coisa, uma senhora que trabalha com animais, Joan, Joan... não me lembro do apelido, uma senhora loura de óculos, que teve graça a uma dada altura da discussão, György Konrád, que perante a impossibilidade de fumar, bebeu o tempo todo e outros que não falaram, não intervieram e que não conheço. A discussão foi extraordinária e mostrou uma Nussbaum a ranger entre dentes um certo desprezo por uma escritora russa que insistia em dizer que a hipótese avançada por Nussbaum não era possível, anulando assim a possibilidade de discussão filosofica (a única que interessa, no meu entender), um Steiner absolutamente avassalador, que arrasou a pobre russa (na altura, confesso que já estava com uma certa pena da senhora), por esta ter tido a desfaçatez de dar um exemplo da sua vida privada para responder à pergunta, um Rorty muito apagado, uma Germaine Greer extraordinária (acho graça à sua militância porque é inteligente, contida, nada histriónica e to the point; além disso foi a única que conseguiu desarmar Steiner, o que não me parece nada pouco), um Schama exuberante e um Scruton por quem me apaixonei, uma espécie de menino de ouro, talentosíssimo e cheio de graça, de quem quero ler tudo (julgo que saiu agora uma tradução de um livro dele) e que me pareceu o elemento mais interessante de todos. Da discussão propriamente dita, recordo a pergunta feita por Nussbaum a Steiner e que causou grande tumulto: "Entre Proust e a abolição da escravatura, o que escolhia?" ao que Steiner responde sem hesitar: Proust. Tenta explicar, mas não consegue totalmente, dada a indignação de Nussbaum e a interferência de Greer. Mas percebemos a intenção (talvez ingénua) de Steiner: o legado de Proust pode melhorar a vida das pessoas, uma vez que as torna menos violentas, mais tolerantes, que as ensina a viverem umas com as outras, a respeitarem a memória etc. Percebo, percebo muito bem; mas não é verdade, lamentavelmente. E depois a discussão sobre o sexo, incentivada por Schama e impedida de descambar - ah, que pena! - por Scruton, ao dizer que o sexo é demasiado importante para ser sequer mencionado. O que me leva a pensar na razão por que em cerca de duas horas nem uma única vez Deus foi referido: talvez por ser demasiado importante (julgo que o facto de a maior parte dos participantes activos na discussão serem judeus será revelante para percebermos a omissão). Fascinante, em suma. A terceira e última parte do programa deveria ser exibida hoje, mas não percebo o que está na programação. Lá para as três da manhã na SIC.

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publicado às 11:13