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Paula Rego, The materials from which nature hews her heroes, 2002
A Casa das Histórias Paula Rego, um projecto do arquitecto Eduardo Souto de Moura, é um sítio especial. O edifício é pequeno e baixo, todo de um betão que parece pintado de encarnado e com duas estruturas em pirâmide que lembram a casa de bolo e açúcar de Hansel e Gretel. Há qualquer coisa de encantado e infantil neste lugar. O caminho até à porta do museu é contornado pela relva bem verde e por umas árvores podadas, todas iguais. Ainda não entrámos e já é tudo muito giro. Lá dentro a multidão de sábado à tarde, famílias inteiras, casais de namorados e grupos de amigos vindos da praia passeiam pelas salas repletas de obras da artista Paula Rego. O odor a vomitado de algum bebé indisposto não distrai as pessoas, que ora muito sérias, ora a rir à gargalhada, estão paradas à frente daqueles quadros. Muitas coisas se passam nas telas de Paula Rego. Demora um certo tempo até descobrir, por exemplo, que em Aida há um demónio pequenino e orelhudo a catar a cabeça de uma esfinge. À frente do célebre Anjo não há muita gente a rir. Mas porquê? A mulher tem um punhal numa mão e… uma esponja na outra! Como é para demorar, visite a Casa num dia de semana.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 2-10-09.
O quadro Olympia, de René Magritte, foi roubado do museu que era a moradia do pintor em Bruxelas. O roubo foi violento, com uma pistola apontada à cabeça do guarda do museu. Este pormenor indica que os criminosos não têm laços de parentesco com os sofisticados Ocean’s Eleven nem sequer com o canastrão do Pierce Brosnan do Thomas Crown Affair. Fiquei um bocadinho decepcionada com isto. Os roubos a museus, embora altamente condenáveis, são na minha escala imoral de criminalidade os mais simpáticos de todos, desde que não sejam violentos. Um carjacking, um assalto a um banco ou à mão armada, além de intoleráveis, são mesquinhos e reles. Roubar uma obra de arte de uma instituição que tem o dever de fazer o que é preciso para a proteger é apenas uma tentação irresistível para os espíritos mais delinquentes. Mas é sobretudo um alerta para que cuidemos das maravilhas que, por razões umas vezes dúbias e outras inteiramente legítimas, pertencem à humanidade. Um museu devia então ser tão difícil de roubar ou mais que um banco central. Há que proteger os objectos feitos por poucos para o deleite de todos os egoístas indecentes que os querem só para eles.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 2-10-09.