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"A difusão daquela "notícia" na televisão, responsabilidade de alguns jornalistas sem vida própria que vivem dentro do facebook e acham que o lá se passa é que é vida, transformou o que era a burrice de alguns portugueses, na burrice de um país inteiro. Não há nada que tenha graça nesta história. Para lá de burrice, é uma tristeza." Clô, Distúrbios Elementares.
"(...) vem, Maitê, vamos cuspir nos monumentos (não venhas na Páscoa), na 1ª edição d’ Os Lusíadas, vamos dançar sobre o túmulo do Garrett, vamos rasgar as bandeiras (a da monarquia também), vamos desprestigiar os órgãos de soberania, não oiças os que te ofendem, os que se abaixo-assinam em petições de fúria provinciana, cospe neles, não peças desculpa, pára de dizer que o teu avô era português e que gostas da terrinha (...)" do Bruno Vieira Amaral.
Portugal está em estado de choque. Maitê Proença apresentou há dois anos uma reportagem televisiva em que ridicularizava o povo português. Não se percebe como nem porquê mas a reportagem feita para o programa Saia Justa só agora foi parar ao YouTube. Maitê podia ter chegado a nossa casa com falinhas mansas e pezinhos de lã como na canção de Carlos Lyra: «Eu cheguei mentindo, eu cheguei partindo, eu cheguei à toa». Mas não. Foi mesmo a cuspir nos Jerónimos. A pátria lusa, que estima os seus actores de novelas, ficou magoada e condenou a sua falta de graça. A actriz retribuiu a acusação aos portugueses e pediu desculpa a quem se ofendeu com o que considerou ser uma «brincadeira». Parafraseando Narciso Miranda, bem revivido pelo Gato Fedorento: pediu desculpa não pedindo. Como tudo isto acontece no maravilhoso mundo virtual, choveram os habituais comentários de difamação e insulto. O site de Maitê Proença foi tomado de assalto por uma horda de amantes incondicionais do país, tudo porque a actriz se ri de um número três pregado ao contrário na porta de uma casa, não manifesta a mínima piedade por um técnico informático inapto num hotel de cinco estrelas, e, como se fosse pouco, acaba a fazer de conta que é fonte, deitando um cuspozinho de menina em pleno Mosteiro dos Jerónimos, onde, diz Maitê, jaz Vasco da Gama «mortinho». Há profissões para as quais toda a gente acredita ter habilitações ingénitas. São elas crítico e comediante. Afinal de contas, toda a gente tem opinião e toda a gente, mesmo o mais trombudo, ri… Os dias passam e Portugal mastiga o tema, como é aliás característico do nosso nobre povo. Temos o grupo dos que desejam que Maitê Proença sofra de refluxo gastro-esofágico até ao fim dos seus tristes dias; temos o grupo dos cínicos, que condenam a reacção exaltada dos alegados patriotas, e que aproveitam para perguntar se por acaso nesta terra há algum bom técnico de informática; e temos ainda um terceiro grupo, recém-formado, que condena com veemência os que condenaram a reacção de nojo à reportagem da actriz. Quem tem razão?
Publicado hoje no Metro. Deixe a sua opinião através do número