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- No início do seu mandato presidencial, pareceu-me a dada altura que Marcelo dava muitos beijinhos e falava demais. Não parecia ter grandes razões para agir assim, mas era assim que agia. Aos poucos o Presidente passou a beijar mais e a não falar tanto, o que me pareceu do mais elementar bom senso. Percebi que era aquele o seu estilo, que não tinha medo das pessoas, e que assumia na perfeição o seu papel de mais alto representante do Estado, junto de todos, fracos ou menos fracos. Era muito criticado pela direita por causa deste seu comportamento, não sabemos se por ciúme ou medo de o Presidente estar envolvido num romance com o governo. Em Portugal, as analogias, sabemo-lo bem, variam entre a doença e as relações amorosas, e nem a realidade entediante de serem todos homens impedem os comentadores de se referirem deste modo a uma relação institucional. Até porque se é "institucional", há certamente "casamento", "divórcio". Seja como for, aqueles que há pouco tempo o criticavam por ser demasiado cúmplice com Costa, agora levam-no em ombros por ter sido "firme". A nenhum destes comentadores passa pela cabeça que Marcelo tenha valores mais altos em mente e que se guie por algo que vai além do que poderia ser o seu interesse mais imediato. A impressão com que fico, quase sempre, é a de que não há grandes diferenças entre políticos e comentadores políticos. Todos, cada um à sua maneira, fazem política. Não há nenhum mal nisso, mas há um mal em todos pensarem e dizerem o mesmo.
- Numa manifestação pacífica em Belém, pouco antes de Marcelo falar ao País, podia ler-se num cartaz qualquer coisa como: "Basta de afectos". Pressupõe-se que a mente brilhante que deu origem a este cartaz considere excessivo aquilo que pouco depois vimos ser essencial às pessoas que sobreviveram a um autêntico inferno. Imagino o que tenha pretendido dizer com aquilo, mas aquele cartaz ridículo é a prova de que a falta de jeito existe em todo o lado.
- João Miranda resumiu muito bem em imagens a relação do País com Costa e Marcelo. A felicidade de Constança, que claramente não sofre de síndrome de Estocolmo, com aquele que a libertou é mais reveladora do que qualquer carta. Não, nem tudo é casamento. Às vezes, é rapto.