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Eu hoje acordei assim...

por Carla Hilário Quevedo, em 12.04.08

Sophia Loren

 

... o dia amanheceu lindíssimo, visibilidade boazinha, sem uma nitidez excessiva. Há dias de uma clareza tal que chega a ser desagradável. Falo da paisagem: dos telhados, das cores das casas, do rio, do Castelo, e por aí fora, quase até Palmela. Há dias em que se vê tudo perfeitamente, e isso aflige-me porque me aproxima de uma série de locais ao mesmo tempo onde não estou. Já os momentos de clarividência são bem-vindos. Não há nada mais refrescante do que perceber as coisas. Perceber, por exemplo, que cada vez menos habitantes deste planeta me interessam. E isto acontece por uma razão: não tenho a menor curiosidade por pessoas que acreditam que os outros devem ser como elas, devem fazer aquilo que, segundo elas, é correcto, e que se indignam sempre muito quando tal não acontece. Não me interessam também porque, paradoxalmente, ou talvez nem tanto, são os mesmos que, sempre que podem, tentam sugar a energia e a vida dos que não conseguem controlar. De repente, tudo o que nos aconteceu, por coincidência, e em simultâneo, também aconteceu a estas criaturas; tudo o que lemos, também já leram e há muito tempo mas nunca se lembram de nada; tudo aquilo em que pensámos, já o sabem há muito. Para estas criaturas nunca há novidade nem surpresa. Como vivem através dos outros, não os podemos considerar pessoas, pois não? Na verdade, nada tenho contra as pessoas. Julgo apenas que temos de definir muito bem esta palavra. 

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publicado às 09:12