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A conversa que está aqui a acontecer, a propósito de um comentário do Tiago Cavaco, é tão séria, profunda e realmente interessante que vou querer intervir. Mas como explico, sem entristecer ninguém, que as pessoas com um sentido de humor apurado são muito sérias? Como desenvolvo que uma piada é uma forma de nos relacionarmos pacificamente uns com os outros? Como confirmo que ridicularizar alguém, por exemplo, pode ser uma forma de não a odiar por completo? Como argumento que as pessoas que mais se ofendem são muitas vezes as menos tolerantes e as mais manipuladoras? Uma graça (sobretudo com graça, é certo) melhora a vida neste mundo intolerante e violento. Não tenhamos medo de entristecer ninguém. Até porque na grande maioria dos casos, essa tristeza, quando de facto acontece, tem pouco que ver com os autores das piadas. Não responsabilizemos os outros pelas nossas fragilidades (agora do outro lado). Aceitemo-las, simplesmente. Com um bocado de sorte, aprendemos a viver melhor com aquilo que somos. Nesse sentido, estou de acordo com o maradona quando diz que as piadas servem para pensar. Quando vejo uma possibilidade de fazer uma piada engraçada, arrisco e depois logo vejo. É certo, no entanto, que tento não me meter com pessoas que sei que vão levar a mal. Mas isto por um motivo tão horrível que tenho vergonha de admitir.
Destaco agora a parte final do comentário do maradona: "O Tiago Cavaco recolhe uma piada sempre que ela pode "entristecer" alguém. Faz como eu e, penso, como quase toda a gente. O que eu digo é que essa regra samaritana pode nem sempre ser do interesse de quem tentamos não "entristecer": por vezes, muitas vezes, eu diria sempre, o humor faz pensar, e pensar "adianta" invariavelmente as cenas, as merdas, as coisas. Acredito, talvez demasiado piamente, que o único ambiente propicio a uma piada é à solta. Se não puder ser agora, já, neste preciso momento, que venha mais tarde, mas que venha sempre. Tem é que ser boa, a piada; e quanto mais pessoas tristes tornar, melhor tem que ser, a bicha. Mas, reunidas que estejam essas condições (profunda, impossivelmente subjectivas, com se disse), "adianta" sempre. Sempre. Às vezes, em momentos que mais não são que milagres, "adianta" tanto que não é preciso dizer mais nada." E, por hoje, não preciso de ler mais nada.