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Faz parte da natureza humana querer encontrar uma explicação para tudo. No entanto, a explicação de uma desgraça exige que se aponte um responsável. Numa época foram os deuses caprichosos. Depois era só um Deus, mas a culpa era sempre nossa. A calamidade só podia ser um castigo. Levámos muito tempo a perceber que a Natureza não é naturalmente nem boa nem má e que Deus não tem nada a ver com as leis da Física. Parece, contudo, que andar à procura de culpados continua a ser mais forte que nós. Quando o dirigente da Quercus, mais rápido que a ajuda humanitária, acusou o Ordenamento do Território, e quando o partido ecologista «Os Verdes», mais rápido que a solidariedade nacional, acusou os interesses privados, percebemos que o ser humano afinal não mudou assim tanto desde o tempo das cavernas. Mas até no apontar de dedo acusatório é possível ter alguma compreensão. O que já é indesculpável é que, antes da contagem das vítimas, antes de se pôr em marcha a ajuda devida aos madeirenses afectados pelo aluvião, haja gente a pedir castigos e a dizer com arrogância, sem compaixão e com muita ignorância: «Nós sempre soubemos que isto ia acontecer».
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 26-2-10