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Os trinta e três mineiros presos há um mês na mina de San José, no Chile, podem só ver a luz do dia lá mais para o Natal. A notícia está a ser encarada com boa disposição pelo grupo. A solidariedade em torno dos homens e a certeza de tudo estar a ser feito para que sejam tirados dali com vida têm dado força aos trinta e três. De camas a medicamentos, tudo tem passado pelo tubo de doze centímetros que liga o buraco de cerca de cem metros, a setecentos de profundidade, ao exterior. Ou quase tudo. O El País noticiou que os mineiros pedem álcool e tabaco desde o primeiro dia. Mas em vez de vinho e cigarros têm recebido vitamina B e ácido fólico. Para ajudar à distracção, as equipas de apoio ao resgate enviaram dominós, e para manter o espírito ocupado desceram pelo tubo umas bíblias minúsculas. Podiam ao menos ter enviado pastilhas de nicotina e bombons de licor. Sobreviver meses a fio debaixo da terra – «uma situação que nunca aconteceu», como refere o psiquiatra Rodrigo Figueroa, citado pelo Guardian – não implica apenas tentar não ficar doente do corpo e da cabeça. Cabe agora a cada uma destas pessoas a tarefa desumana de anular aquilo que é.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 3-9-10