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Audrey Hepburn
... ora, muito bom dia! Só perguntas difíceis para um tema complicado; afinal, perguntas que o tema merece. Quando descrevi o cenário que destaca a Helena Sacadura Cabral, fiquei a remoer que é raro encontrá-lo em Portugal, daí uns dias depois ter acordado (embora não fisicamente) noutro país. Mas antes de chegar a uma possível resposta às perguntas colocadas, gostaria de dizer que 'merecer o que nos acontece' é uma ideia, para mim, muito difícil de entender. (Se 'acontece', como pode ser 'merecido'?) A pergunta costuma ser: 'e o que fiz eu para merecer uma coisa destas?'. Normalmente a pergunta (de desespero) reflecte a má situação em que nos vemos metidos. A conclusão habitualmente é: 'não fiz nada'. E é verdade que estamos inocentes. Falo de um modo geral em relação a adversidades impensáveis, embora comuns, da vida. Passemos, então, ao lado prático do merecimento. A promoção da mediocridade só é possível num ambiente medíocre, em que a excelência é invejada, quando devia estar a ser promovida. A promoção da excelência, do óptimo trabalho, do esforço só é possível em ambientes excelentes que, não só reconhecem e valorizam um óptimo trabalho, como o exigem, e premeiam o esforço. Felizmente, em Portugal, não existe só mediocridade: há algumas ilhas no continente. Para ir parar às ilhas boas, é preciso ter sorte. Se o país quer fazer alguma coisa de si próprio (uma ideia um bocado louca, mas não sei dizer melhor), é bom que comece a perceber que para ser competitivo não pode ser doméstico. Não somos todos amigos, nem 'uma grande família'. Somos um país governado há demasiados anos por gente que promoveu a mediocridade, que alardeou ideias falsas de igualdade, quando devia estar a promover activamente o mérito; e que obriga os melhores (alunos, técnicos, profissionais) a procurar trabalho e reconhecimento noutros países. A crise pode ter efeitos positivos em sociedades capazes de se adaptar a novas circunstâncias e mudar depressa a sua maneira de funcionar. Não é o caso de Portugal, que será obrigado a mudar por uma questão de sobrevivência. Só para terminar (isto já vai longo, as minhas desculpas), e porque tenho esperança e sou profundamente optimista (o pessimismo é, aliás, um luxo), julgo que, apesar das dificuldades próprias à sociedade portuguesa, há uma diferença entre o povo e quem o representa. É como se a Assembleia da República (felizmente, com excepções muito boas) se tivesse tornado anacrónica numa sociedade com pessoas interessadas em produzir cada vez melhor. Muitos beijinhos, Helena! Obrigada.