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Eu hoje acordei assim...

por Carla Hilário Quevedo, em 30.11.10

Elizabeth Taylor

 

... parece que se toca num ponto sensível quando se critica o Facebook. Não é minha intenção aborrecer ninguém, mas percebo os riscos de estar a criticar um modo de vida, pois é disso que se trata. Admito que possa agora estar numa posição semelhante à dos desconfiados jarretas do boom dos blogues. Há, no entanto, diferenças entre os dois meios e elas estão bem à vista. Mesmo o blogue mais intimista e radical na sua exposição diária não falaria de uma maneira tão seca de factos do seu quotidiano. Não partilharia as fotografias do jantar da empresa ao seu círculo restrito e privado de 478 amigos, no dia seguinte ao sucedido, sem perguntar nada aos participantes e colegas. Outra coisa: não passaria pela cabeça de nenhum blogger citar versos de Camões e Pessoa sem lhes atribuir a devida autoria. Parece que no Facebook isto é frequente e as reacções a "Alma minha gentil, que te partiste", subitamente assinados por esses grandes poetas ignorados, Maria Andrade ou Pedro Sousa, são qualquer coisa como «Lindo!», «És o maior!» e outras idiotices do género. E os problemas que o Facebook traz? Diz-me um facebookista que com ele não há cá mensagens privadas no mural. Sempre que um "amigo" se aventura a revelar demais à vista de todos, ele apaga a mensagem, escreve à pessoa e diz-lhe das boas. Com a quantidade de problemas que a vida tem e ainda há amigos a fazer chamadas de atenção a outros, sem pensar no que significa dizer a alguém que está a ser indiscreto. Aos que argumentam que depende da sensibilidade das pessoas respondo que, infelizmente, há sempre quem não percebe a diferença entre ser bem tratado e maltratado. Gostaria ainda de dizer que a privacidade no Facebook é um logro. Isto é pequeno, todos temos a experiência de conhecer um amigo de um amigo de Facebook que lhe diz: «Olha, vi a tua fotografia em casa de não sei quem». Como isto já vai longo, passemos à parte boa. O Facebook é uma comunidade, e como tal - aliás, como acontece nos blogues - há sempre quem tenha o espírito saudável de união e respeito pelo próximo e o cultive na rede social. Creio apenas que o preço da pertença facebookiana é demasiado alto. E o custo da vida está pela hora da morte.  

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publicado às 09:12