por Carla Hilário Quevedo, em 26.08.03
Na consulta da Academia
- Professor, não durmo há duas semanas.
- Mas porquê?
- Porque não tenho sono.
- Mas tem alguma coisa a ver com as leituras que lhe receitei?
- Sim, a minha cabeça não pára e duvido de tudo o que digo. E do que escrevo então...
- Óptimo. Vamos fazer uma pausa nessas leituras anfetamínicas.
- Mas estou a gost...
- Ora bem. Nada como uma bela tragédia para limpar essa cabeça. Começamos com a Oresteia.
- Quando li o Agamémnon tive um soninho descansado.
- Pois agora leia as Coéforas e as Euménides e quero vê-la outra vez no dia 10 de Setembro.
- E se continuar a ter insónias?
- Um comprimido inteiro de Lendormin, 30 minutos antes de deitar, durante uma semana.
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por Carla Hilário Quevedo, em 26.08.03
Estive até agora a pensar (e são já muitas horas passadas nisto) na frase que escrevi aí em baixo: "Este é um exemplo do que gosto: de coisas que duram quase para sempre". Não. Do que gosto é das coisas que duram para sempre. Ou seja, do que gosto é das coisas que não existem, porque nada dura para sempre. Mas se não existem, não posso gostar delas.
O facto de o diário ter páginas suficientes para cinco anos de escrita agrada-me. Mas cinco anos não é para sempre. E se for, é algo que só saberei a posteriori, ou seja, depois da morte; ou melhor, é algo que nunca saberei. Saber que o diário dura cinco anos (que é muito tempo para um diário) leva-me a mentir.
Tudo isto para dizer aquela frase é falsa, mas percebe-se o que quero dizer. E com estes disparates vivemos alegremente.
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