"Maimónides, o maior pensador moral judeu do período medieval, concebeu uma «Escala Dourada da Caridade». O grau inferior da caridade, disse ele, é dar relutantemente; o segundo, é dar com alegria mas não em proporção à aflição da pessoa com necessidade; o terceiro nível é dar com alegria e proporcionalmente, mas apenas quando nos é solicitado; o quarto é dar com alegria e proporcionalmente, sem que nos seja solicitado, mas colocar a oferenda na mão da pessoa, fazendo-a sentir vergonha; o quinto é dar de forma a não se saber a quem se beneficia, mas o beneficiado conhecer a nossa identidade; o sexto é saber quem beneficiamos, mas permanecermos incógnitos para o beneficiado; e o sétimo é dar de modo a não sabermos quem beneficiamos e o beneficiado não conhecer a nossa identidade. Acima deste sétimo nível, Maimónides colocou apenas a antecipação da necessidade de caridade e a sua prevenção, ajudando os outros a ganhar o seu sustento sem precisarem de recorrer à caridade."
Peter Singer, Como havemos de viver?, Lisboa, Dinalivro, 2005, p. 291.
... Há uma pergunta clássica que grande parte dos jornalistas obrigatoriamente faz a quem tem um blogue e que é a seguinte: «Porque é que tem um blogue?» As respostas se não são deviam ser quase tantas quantos (pelo menos) os blogueadores inquiridos. Aquelas de que mais gosto oscilam entre um «sei lá» snobe seguido de um popularucho encolher de ombros que felizmente ninguém vê e um frívolo «diverte-me» que desresponsabiliza completamente o seu autor ou a sua autora. No entanto, a resposta que mais tenho ouvido nos últimos tempos vem sempre acompanhada de um relato breve, embora enfadonho, que acaba indefectivelmente com um «e foi nessa altura que [nome do pai, da mãe, do tio, do amigo, da namorada, do aluno, antecedido de artigo] me perguntou porque é que eu não fazia um blogue». Ora vamos lá a ver, quem diabo pode alguma vez sugerir uma coisa destas? Mas pior ainda: quem pode levar tal sugestão a sério? (Tu devias ter um blogue continua na Atlântico de Junho)