Este ano morreram dois amigos meus. Por causa da proximidade e pelo muito que a morte deles me afectou fui incapaz de sequer referir o tema. Como se houvesse alguma dúvida, confirmo que o blogue não funciona para mim como nenhum tipo de terapia e, afinal, nem sequer como um diário. O meu blogue é um passatempo, um laboratório de experiências, uma coisa engraçada, um brinquedo, um meio de conversa, de partilha de gostos e, por vezes, de informação e opinião. Fica, no entanto, claro que sou incapaz de partilhar o sofrimento publicamente. Nunca me pareceu que fosse um defeito. Mas é possível que seja.
E o ano acaba assim: com a notícia da morte absurda do Olímpio Ferreira, paginador talentoso e uma pessoa doce que conheci há uns anos na Oficina do Livro. Um dia encontrámo-nos na inauguração de uma livraria. O Olímpio era tímido mas era também sempre muito amável, o que me sempre me fez suspeitar da sua timidez. Talvez por isso naquele dia me senti à vontade para me aproximar e lhe falar de como tinha gostado do livro do Barnabé. Lembro-me perfeitamente da expressão dele, surpreendido. Era muito boa onda o Olímpio. Que Deus o tenha.
Esta altura do ano é pródiga em balanços e listas. Dezembro é também um mês propício a reflexões sobre o que fomos capazes de concretizar, o que tivemos de adiar, o que deixámos para trás, o que continuamos a desejar. Acaba um ano e começa o seguinte e essa mudança no calendário parece sempre trazer a reboque uma mistura de apreensão e de esperança. Aqueles que convivem mal com o passado têm a sensação de que à meia-noite e um minuto do dia de ano novo se estão a livrar de todos os seus problemas. Esta espécie de delírio festivo acaba uns minutos depois. Precisamente à mesma hora, os que lidam com os problemas e os aceitam como fazendo parte da vida, sabem que têm muito para resolver e para viver. Não sei se aqueles que percebem as suas embrulhadas são mais esperançosos do que os outros que as negam ou que confortavelmente deixam andar, mas aconselharia – se me permitem – a que o fossem. A lucidez é condição indispensável à saúde mental mas de maneira nenhuma obriga ao mau humor. Por isso o meu desejo de ano novo para os lúcidos optimistas é o seguinte: não se deixem vencer pelas circunstâncias.