De todas as características femininas que admiro, a insolência parece ser a que, neste país, menos adeptos reúne. Em França, uma mulher que não tenha a sua dose de destempero arrisca a que ninguém repare na sua existência. Rapariga argentina que não tenha o nariz empinado e a resposta na ponta da língua tem o destino garantido na mais completa obscuridade social. Portugal, pelo contrário, é um dos maiores produtores de moscas-mortas do mundo. Como explicar este curioso fenómeno? Os principais responsáveis por este estado lamentável de coisas são – como sempre – os membros do sexo masculino que tudo fazem para serem deixados em paz e sossego, mas não esqueçamos as próprias seduzidas que se deixam levar na ilusão de que são amadas por serem discretas. Minhas senhoras, a sobriedade é sem dúvida uma virtude mas raramente dá felicidade porque esmaga algo a que arriscaria considerar inato em todas as descendentes de Eva: a impertinência. Sempre que perceber que uma mulher está a ser insolente não se escandalize, e muito menos a interrompa. Sorria e pense que pelo menos aquela se tornou no que sempre foi.
Mesmo não sabendo: (risos) mantenho o comentário. Nem essas perguntas serão estúpidas. Talvez chatas mas nunca estúpidas. Já as respostas... De qualquer forma, se lhe apetecer apresentar um exemplo de pergunta estúpida, terei muito gosto (pelo menos) em ler.
"Talvez a imobilidade das coisas à nossa volta lhes seja imposta pela nossa certeza de que são elas e não outras, pela imobilidade do nosso pensamento diante delas. Mas a verdade é que, quando acordava assim, com o espírito a agitar-se para procurar onde estava sem o conseguir, tudo girava em redor de mim na escuridão, as coisas, as terras, os anos."
Em Busca do Tempo Perdido, Do Lado de Swann, tradução de Pedro Tamen, Lisboa, Relógio d'Água, 2003, p. 12.