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Para o João Gonçalves

por Carla Hilário Quevedo, em 22.01.10

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Motive of attack. - One attacks someone not only so as to harm him or to overpower him but perhaps only so as to learn how strong he is.

 

Friedrich Nietzsche, Human, All Too Human: A Book For Free Spirits, translated by R. J. Hollingdale, Cambridge University Press, 1996, p. 138. 

 

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publicado às 21:07

Rádio Blogue: Haiti

por Carla Hilário Quevedo, em 22.01.10

O tremor de terra no Haiti e a situação calamitosa em que o país se encontra têm ocupado os noticiários e as páginas dos jornais. A tragédia que aconteceu neste país miserável, sem meios para reagir à calamidade, sem hospitais nem medicamentos, nem conhecimento para resolver situações médicas graves, comoveu o mundo. É natural e é bom que assim seja. Histórias de famílias inteiras desaparecidas, relatos de crianças que se vêem de repente sozinhas no mundo, crónicas de médicos portugueses que pedem dispensa das aulas para poder ir ajudar as vítimas do sismo, notícias de bebés que entretanto nascem alheias ao desastre, tudo isto tem interesse jornalístico. Não se pretende do jornalismo que seja mecânico. É natural e positivo que os jornalistas presentes no Haiti se comovam perante aquilo que vêem. Cada um terá a sua maneira de relatar o que vê, mas não é possível – e ainda menos aconselhável – que neste caso extremo haja uma preocupação em conter lágrimas e medir muito as palavras. O que se passa neste momento naquele sítio do planeta só será indiferente a uma minoria. Desde a mera perplexidade sobre a má sorte daquele país desgraçado até aos donativos das estrelas de Hollywood para ajudar na fatalidade, nos últimos dias as vítimas do Haiti ficaram mais próximas de um mundo globalizado e habitualmente indiferente à má sorte alheia. Esta proximidade acontece sobretudo por causa das reportagens televisivas. Vivemos num mundo cada vez mais feito de imagens, que substituíram os relatos outrora feitos apenas por escrito. Se por um lado há um efeito perverso, que faz com que as pessoas achem que se um acontecimento não for transmitido pela televisão, então não existiu, também o facto de podermos ver as tragédias em directo, quer sejam guerras ou desastres naturais, impede que fechemos os olhos e dificulta a indiferença. É ou não correcto mostrar imagens chocantes das calamidades? Precisamos de imagens para compreender o sofrimento?

 

Publicado hoje no Metro. Deixe a sua opinião através do 21 351 05 90 ou no Jazza-me Muito. Os comentários que chegarem até quinta-feira, dia 28, às 15h, vão para o ar na Rádio Europa na sexta, dia 29, às 10h35. 

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publicado às 20:58