Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
William Hogarth, Characters and Caricaturas, April 1743, etching and engraving on paper, 261 x 205 mm. Tate Britain.
The worst it got was near the end. A lot of people died right at the end, and I didn't know if I could make it another day. A farmer, a Russian, God bless him, he saw my condition, and he went into his house and came out with a piece of meat for me.
- He saved your life.
- I didn't eat it.
- You didn't eat it?
- It was pork. I wouldn't eat pork.
- Why?
- What do you mean why?
- What, because it wasn't kosher?
- Of course.
- But not even to save your life?
- If nothing matters, there's nothing to save.
Jonathan Safran Foer, Eating Animals, Penguin Books, 2009, pp. 16-17.
Tenho andado a pensar no filme de Haneke. Não sei se a capacidade de discernimento do Pastor o redime da sua crueldade. Mas há qualquer coisa nesta figura que não me parece tão demoníaca quanto, por exemplo, a do médico. Mas depois há aquele bilhete... Vou ver o filme outra vez.
Em Maio do ano passado, O laço branco (no original, Das weisse Band), do realizador alemão Michael Haneke, fora premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Agora venceu o Globo de Ouro para o Melhor Filme Estrangeiro. Está em exibição nas salas de cinema portuguesas e recomendo-o, mesmo a almas sensíveis. Numa aldeia do Norte da Alemanha, pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial, algumas pessoas inocentes e bondosas tentam sobreviver num meio de inveja e maldade. Entre as figuras meigas temos o Professor, a ama de Sigi, a Baronesa e as crianças mais pequenas, alvos preferenciais dos mais velhos. O pastor luterano, que educa os filhos com autoritarismo, acaba por ser uma figura ambígua, pois, apesar da rispidez, é capaz de se comover com o filho mais novo, além de se aperceber da maldade da filha mais velha. Muito curiosa neste filme de Haneke é a atribuição de virtudes à aristocracia (a baronesa) e de vícios a profissões incontestáveis e às crianças, sempre tidas como inocentes (o médico, a própria parteira e os filhos mais velhos das famílias dos criados). Que pena Michael Haneke não ter contado um bocadinho mais.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 22-1-10