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Petrus Christus, Retrato de jovem rapariga, ca. 1470. * Título atribuído por João Bénard da Costa, em "Audrey Hepburn e as mitologias", Muito lá de casa, Assírio & Alvim, Lisboa,1994.
Christophe Nick é o autor de um documentário controverso, exibido no canal de televisão francês France 2, sobre os limites da televisão. Para demonstrar a tese de que as pessoas são capazes de tudo desde que estejam a ser filmadas, foi realizada uma experiência que terá sido baseada num estudo da Universidade de Yale na década de 60 em que se pretendia apurar se cidadãos aparentemente normais seriam obedientes ao ponto de participar em assassínios em massa. Assim, oitenta pessoas, que desconheciam estar a fazer parte de uma experiência, aceitaram participar num novo reality-show intitulado Le jeu de la mort. O nome do concurso, em português «O jogo da morte», não chegou para dissuadir de imediato os participantes. O falso programa consistia numa série de perguntas e respostas, em que cada resposta errada era punida com uma descarga eléctrica mais ou menos forte. A pessoa que infligia o choque eléctrico ao participante que errava estava na posição daquele que obedecia a uma ordem do apresentador e seguia uma regra do concurso. A hipótese de ser a televisão a responsável pela adesão de 82% dos participantes não me convence. Ao contrário do que Christophe Nick pretende provar, não parece haver uma relação directa entre «estar na televisão» e «dar choque eléctricos a pessoas que respondem erradamente». Quero com isto dizer que a segunda não se segue necessariamente da primeira. Em 1967, o professor de história William Ron Jones quis explicar aos alunos do liceu de Cubberley, na Califórnia, as origens da Alemanha nazi. Em vez de debitar a matéria, resolveu fazer uma experiência. Criou um movimento e levou os alunos a aceitar os princípios básicos que geram um sistema fascista. A experiência é assustadora e está documentada no filme alemão A onda, de Dennis Gansel. Ninguém estava a participar num reality-show e quase todos obedeceram. Será, então, mais útil contestar a ideia comum de que as pessoas fazem num programa televisivo o que nunca fariam noutro sítio qualquer. As pessoas são capazes de tudo? Ou são capazes de tudo desde que apareçam na televisão?
Publicado hoje no Metro. Deixe a sua opinião através do
Elizabeth Taylor
... sempre que se fala de de direitos dos animais há uma espécie de loucura que toma conta das pessoas. O tema suscita sempre reacções exaltadas. Isto é muito bom. Sou daquelas pessoas a quem nada choca que os animais tenham alguns direitos, nomeadamente o direito a não serem objecto de práticas cruéis. Porque é de crueldade que se está a falar. E só os seres humanos são capazes de tal coisa. Por isso as discussões inflamadas sobre o tema são muito boas. É sinal de que estamos a evoluir de alguma maneira (e a confusão faz parte do crescimento) e não estamos todos adormecidos. E assim vemos os defensores das touradas a defender que não são más pessoas, e os defensores dos touros a aceitar a extinção do animal. Se não existe na Natureza, então é porque talvez não tenha de existir. Palavra de honra que dei por mim a dizer isto. E não é que tenho razão?