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Sabemos que a pedofilia não é um crime exclusivo de nenhuma religião. Sabemos ainda que a pedofilia não é um problema grave apenas existente na Igreja Católica. Sabemos por fim que o Papa Bento XVI condenou com palavras duras os abusos sexuais a crianças à guarda de sacerdotes religiosos e pediu desculpa às vítimas. Feitas as necessárias ressalvas, os casos de pedofilia no sacerdócio católico e o seu encobrimento por membros eclesiásticos são uma infâmia. A vergonha e a consternação do Papa Bento XVI, bem como dos fiéis conscientes da gravidade do problema com que se debatem, são plenamente justificadas. Mas isto não é suficiente. Perante os casos que têm vindo a público na Irlanda, que levaram à recente demissão do bispo John Magee, no Brasil, na Suíça, na Áustria, na Holanda, na Alemanha e nos Estados Unidos, a atitude condenatória do Papa, apesar de corajosa, parece ainda demasiado branda aos olhos da opinião pública. É provável que Ratzinger tenha sido duro internamente e não duvido do seu desejo em erradicar da Igreja os padres pedófilos e os seus cúmplices. Mas precisamos de ver mais. Na carta pastoral enviada aos católicos da Irlanda sobre a questão dos abusos sexuais, o Santo Padre manifestou vergonha e desolação pelos actos cometidos, e afirmou partilhar do «sentimento de traição que tantos sentiram ao tomar conhecimento desses actos pecaminosos e criminosos e da forma como as autoridades eclesiásticas na Irlanda lidaram com eles». O Papa Bento XVI referiu ainda o «grande dano perpetrado à Igreja e a percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa». Aqueles que se escudaram numa mensagem de bondade e abusaram da confiança da comunidade para cometer crimes hediondos também agiram contra os padres bons, que educaram tantas crianças com dignidade e respeito. O Papa Bento XVI deve punir de modo exemplar e publicamente os padres envolvidos em casos de abusos sexuais? A Igreja Católica pode recuperar deste escândalo?
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