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Os psicólogos canadianos Nina Mazar e Chen-Bo Zhong (sino-canadiano?) publicaram na Psychological Science os resultados de um estudo curioso. O objectivo era saber se os produtos biológicos tornavam os seus consumidores pessoas melhores. Pois parece que não. Olha a grande surpresa! Não me digam que uma pessoa que só consome produtos bons para o ambiente não é necessariamente uma pessoa melhor? Pode ser ou pode não ser. Mas segundo este estudo, não é mesmo. Naquele grupo de bichos humanos foi observada uma espécie de mecanismo de compensação a funcionar do seguinte modo. Os que compravam produtos biológicos tinham uma tendência mais acentuada para mentir, roubar e ser malcriado que os outros consumidores de produtos não especialmente ecológicos. Os primeiros, como já tinham dado para o peditório do bem (comprando iogurtes de soja e lâmpadas economizadoras de energia eléctrica), davam a si próprios uma folga para fazer asneira. Parece que havia uma ideia inocente de que os amantes da ecologia eram sempre pessoas mais bondosas e preocupadas que o resto dos comuns dos mortais. Graças a este estudo, podemos por fim descontrair. Não é pelo amor ao planeta que vamos lá.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 26-3-10
Daisy Goodwin, membro do júri do prémio Orange, atribuído a obras de mulheres romancistas e escritoras revelação, reclamou publicamente da falta de humor nos textos apresentados este ano. Goodwin contou que dos 129 livros de ficção a concurso, grande parte começa com uma cena de violação, noutros contam histórias de «irmãs asiáticas», e que o simples prazer do leitor parece ter sido esquecido pelos editores. Como era esperado, Goodwin foi atacada por ser um membro do júri a falar mal de mulheres num concurso em que se premeiam mulheres. Mas e se forem todas umas chatas? Ou melhor: se uma das condições do Orange é premiar grandes livros, capazes de estimular os leitores, Goodwin tem razão em apontar a falta de graça como uma falha grave. É certo que há diferenças evidentes entre livros chatos e livros sérios. E entre livros chatos, sérios e bons. Mas é também certo que os grandes livros nunca são chatos embora sejam sempre sérios. Mesmo que tenham muita graça. Podem agora dizer que depende de quem os lê. Pois é capaz. Seja como for, estou do lado de Daisy Goodwin. Quem não poupar os leitores a folhetins pessoais amargurados não merece nenhum prémio.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 26-3-10
Anna Karina
... ontem, à espera do penúltimo episódio de Dexter, vi uns minutos da entrevista de Mário Crespo a Ângelo Correia. Estava naquele estado em que olhava mais que ouvia, quando despertei com a seguinte observação de Ângelo Correia à proposta formal de Mário Crespo de, se lhe permitisse, gostaria de lhe fazer mais uma pergunta. "Pode fazer as perguntas que quiser", respondeu o simpático Ângelo. Pena que Mário Crespo não tenha começado a perguntar coisas de resposta difícil ou demorada. É que dito assim - faça as perguntas que quiser - lembrou-me o Humpty Dumpty, que diz à Alice que é capaz de explicar todos os poemas que existem e mais uma grande parte dos que ainda não foram inventados. Como a resposta é sempre o que quer que seja, não importa a pergunta que é feita. Por isso todas as perguntas podem ser feitas. Alguma resposta, seja ela qual for, hão-de ter. Ou seja: a todas as perguntas correspondem todas as respostas, que é como quem diz, nenhuma. Isto é parecido com fazer perguntas a um oráculo. A Mary Beard escreve um artigo tão bom no TLS a falar deles. Há registos de pessoas que perguntavam o seguinte: "Fui envenenado?". E cinco em cada dez oráculos respondiam que sim.