Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Himno

por Carla Hilário Quevedo, em 21.03.10

Esta mañana
hay en el aire la increíble fragancia
de las rosas del Paraíso.
En la margem del Eufrates
Adán descubre la frescura del agua.
Una lluvia de oro cae del cielo;
es el amor de Zeus.
Salta del mar un pez
y un hombre de Agrigento recordará
haber sido ese pez.
En la caverna cuyo nombre será Altamira
una mano sin cara traza la curva
de um lomo de bisonte.
La lenta mano de Virgilio acaricia
la seda que trajeron
del reino del Emperador Amarillo
las caravanas y las naves.
El primer ruiseñor canta en Hungría
Jesús ve en la moneda el perfil de César.
Pitágoras revela a sus griegos
que la forma del tiempo es la del círculo.
En una isla del Océano
los lebreles de plata persiguen a los ciervos de oro.
En un yunque forjan la espada
que será fiel a Sigurd.
Whitman canta en Manhatan.
Homero nace en siete ciudades.
Una doncella acaba de apresar
al unicornio blanco.
Todo el pasado vuelve como una ola
y esas antiguas cosas recurren
porque una mujer te ha besado.

 

Jorge Luis Borges

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 08:26

Eu hoje acordei assim...

por Carla Hilário Quevedo, em 20.03.10

Helena Bonham Carter

 

... ontem revi na RTP 1 o melhor filme de todos os tempos: Sweeney Todd. Não, não é o melhor filme de todos os tempos, e por isso não o incluí aqui: é uma tragédia grega. Ésquilo puro recuperado por Stephen Sondheim e Tim Burton. Já não me lembrava dos pormenores do reconhecimento na cena final. Nem do quadro belíssimo, embora demasiado explícito para qualquer alma antiga, do casal Benjamin Barker reunido numa piscina de sangue. Percebi que, do final, só me lembrava do gesto certeiro da criança, que mata Todd pelas razões erradas, mas que por fim o liberta.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 10:28

Audrey Hepburn*

por Carla Hilário Quevedo, em 19.03.10

Petrus Christus, Retrato de jovem rapariga, ca. 1470. * Título atribuído por João Bénard da Costa, em "Audrey Hepburn e as mitologias", Muito lá de casa, Assírio & Alvim, Lisboa,1994.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:31

Rádio Blogue: O Jogo da Morte

por Carla Hilário Quevedo, em 19.03.10

Christophe Nick é o autor de um documentário controverso, exibido no canal de televisão francês France 2, sobre os limites da televisão. Para demonstrar a tese de que as pessoas são capazes de tudo desde que estejam a ser filmadas, foi realizada uma experiência que terá sido baseada num estudo da Universidade de Yale na década de 60 em que se pretendia apurar se cidadãos aparentemente normais seriam obedientes ao ponto de participar em assassínios em massa. Assim, oitenta pessoas, que desconheciam estar a fazer parte de uma experiência, aceitaram participar num novo reality-show intitulado Le jeu de la mort. O nome do concurso, em português «O jogo da morte», não chegou para dissuadir de imediato os participantes. O falso programa consistia numa série de perguntas e respostas, em que cada resposta errada era punida com uma descarga eléctrica mais ou menos forte. A pessoa que infligia o choque eléctrico ao participante que errava estava na posição daquele que obedecia a uma ordem do apresentador e seguia uma regra do concurso. A hipótese de ser a televisão a responsável pela adesão de 82% dos participantes não me convence. Ao contrário do que Christophe Nick pretende provar, não parece haver uma relação directa entre «estar na televisão» e «dar choque eléctricos a pessoas que respondem erradamente». Quero com isto dizer que a segunda não se segue necessariamente da primeira. Em 1967, o professor de história William Ron Jones quis explicar aos alunos do liceu de Cubberley, na Califórnia, as origens da Alemanha nazi. Em vez de debitar a matéria, resolveu fazer uma experiência. Criou um movimento e levou os alunos a aceitar os princípios básicos que geram um sistema fascista. A experiência é assustadora e está documentada no filme alemão A onda, de Dennis Gansel. Ninguém estava a participar num reality-show e quase todos obedeceram. Será, então, mais útil contestar a ideia comum de que as pessoas fazem num programa televisivo o que nunca fariam noutro sítio qualquer. As pessoas são capazes de tudo? Ou são capazes de tudo desde que apareçam na televisão?

 

Publicado hoje no Metro. Deixe a sua opinião através do  21 351 05 90 ou no Jazza-me Muito. Os comentários que chegarem até quinta-feira, dia 25 de Março, às 11h, vão para o ar na Rádio Europa na sexta, dia 26, às 10h35. 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:20

Nellie McKay is a proud member of PETA

por Carla Hilário Quevedo, em 19.03.10

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:13

Eu hoje acordei assim...

por Carla Hilário Quevedo, em 19.03.10

Elizabeth Taylor

 

... sempre que se fala de de direitos dos animais há uma espécie de loucura que toma conta das pessoas. O tema suscita sempre reacções exaltadas. Isto é muito bom. Sou daquelas pessoas a quem nada choca que os animais tenham alguns direitos, nomeadamente o direito a não serem objecto de práticas cruéis. Porque é de crueldade que se está a falar. E só os seres humanos são capazes de tal coisa. Por isso as discussões inflamadas sobre o tema são muito boas. É sinal de que estamos a evoluir de alguma maneira (e a confusão faz parte do crescimento) e não estamos todos adormecidos. E assim vemos os defensores das touradas a defender que não são más pessoas, e os defensores dos touros a aceitar a extinção do animal. Se não existe na Natureza, então é porque talvez não tenha de existir. Palavra de honra que dei por mim a dizer isto. E não é que tenho razão?

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 09:16

I feel your pain and yet

por Carla Hilário Quevedo, em 16.03.10

I feel sympathy

Empathy

It's just that I'm super busy right now

Really

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:29

Separados à nascença

por Carla Hilário Quevedo, em 16.03.10

Cheshire 'Stephen Fry' Cat e Varandas

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:24

Alice

por Carla Hilário Quevedo, em 16.03.10

Porque é Alice in Wonderland de Tim Burton um bom filme? Antes de mais, porque não tenta reproduzir os livros de Lewis Carroll. Uma interpretação colada ao original levar-nos-ia a constantes comparações ao texto e a decepções inevitáveis. Tim Burton optou por continuar a história obedecendo ao espírito de retorno ao País das Maravilhas, que já acontecera em Through the Looking-Glass. Seis meses intervalam a primeira e a segunda ida de Alice a Wonderland. O filme de Burton é assim um segundo regresso passados 13 anos. Aos 19, Alice comete os mesmos erros que cometera aos seis. Memória e experiência de nada lhe servem. Mas a heroína de Burton está destinada a resolver um problema maior: matar o Jabberwock. A sugestão de que seria Alice a matar o bicho já aparecera na ilustração original de Sir John Tenniel que acompanha o poema Jabberwocky. As palavras inventadas no poema ganham sentido no filme e até a espada vorpal está guardada no castelo da Rainha de Copas. A história do terceiro sonho (o de Burton) fora contada no poema em Through the Looking-Glass. E é Alice o herói que salva o povo do monstro. Como diria Lou Reed: «And then he was a she».

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 12-3-10

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:22

Jabberwocky

por Carla Hilário Quevedo, em 16.03.10

'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

"Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!"

He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought—
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.

And as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!

One, two! One, two! and through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.

"And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!"
He chortled in his joy.

'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

 

Lewis Carroll, Through the Looking-Glass, and What Alice Found There, Chapter 1

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:18

Blockbomba

por Carla Hilário Quevedo, em 16.03.10

The Hurt Locker (ora, porque é que este filme só podia ter sido realizado por uma mulher? porque 1) no início do filme aparecem dois gatinhos, ainda por cima, um coxo e outro escanzelado; 2) há uma cena com o Sargento William James todo vestido no chuveiro, que é obviamente uma vingança feminista por a quantidade de t-shirts molhadas no cinema; 3) só uma mulher compreende que quando se diz a um homem para trazer cereais do supermercado, ele, coitado, fica mais perdido num corredor com prateleiras repletas de caixas que em pleno deserto iraquiano; e 4) o Sargento William James tem aquela coragem estúpida, típica dos homens que agem porque não pensam e têm sorte; irresistível para errr, imensas mulheres.)

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:09

Ainda os touros

por Carla Hilário Quevedo, em 16.03.10

"Yo me quedo con el arrebato de Nietzsche en la plaza Carlo Alberto de Turín, abrazado llorando al cuello del viejo caballo fustigado por su cochero. ¿Síntoma de locura o comprensión abismal de la irreductible desdicha de existir?" Fernando Savater, a propósito da guerra entre taurinos e antitaurinos no parlamento catalão.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:05

...

por Carla Hilário Quevedo, em 14.03.10

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 17:03

Eu hoje acordei assim...

por Carla Hilário Quevedo, em 14.03.10

Marilyn Monroe

 

... tem uma certa graça o excesso de dramatismo de Paulo Rangel a discursar. É, pelo menos, invulgar. Ainda não sei bem se é bom ou mau, mas parece marcar uma diferença. Se for um estilo, então Paulo Rangel terá o mérito de ter encontrado o seu, coisa que parece fácil numa época de assessores e conselheiros, mas que poucas vezes tem bons resultados. Também um certo nervosismo e a voz a tremelicar são pontos a seu favor. Se se confirmar que o estilo de Paulo Rangel revela emotividade, então haverá espaço para lhe dar o benefício da dúvida. Um líder não sai formatado de reuniões, e é, por definição, alguém emotivo. Sobretudo, e por mim falo, não pode ser uma criatura fria. Há demasiadas pessoas frias neste mundo. Não prestam. Nunca servem.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 09:41

Rádio Blogue: Touradas e cultura

por Carla Hilário Quevedo, em 12.03.10

William Hogarth, The Cockpit (or Pit Ticket), 1759. "As Hogarth shows, cockfighting was a popular sport enjoyed by men from all levels of society. (...) The cold reality of this sport is here underlined by the men’s insensitivity to the cruelty inflicted in the name of entertainment as they jostle each other, scramble to make bets and shout encouragement at the sparring birds in the centre. In this context the scene relates directly to The Four Stages of Cruelty, which also demonstrates that society as a whole both tolerates and encourages violence." Da Tate Britain.

 

Foram criadas duas novas secções no recuperado Conselho Nacional de Cultura: artes e tauromaquia. O anúncio está a suscitar polémica, não por causa da secção das artes, mas por a bizarra secção de tauromaquia. A Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, afirmou que «[a] tauromaquia existe e movimenta 650 mil espectadores. É nossa obrigação cumprir a lei e a lei diz que temos que a regular». A secção é justificada porque a tauromaquia é uma das áreas que faz parte das competências do Ministério da Cultura e está sob a alçada da Inspecção Geral das Actividades Culturais (IGAC). Garantir, por exemplo, a segurança dos espectáculos artísticos é uma das suas competências. Encontramos o primeiro problema, talvez o mais superficial, nestas declarações da Ministra da Cultura. Se a função do Ministério da Cultura se esgota no cumprimento de leis, e não inclui suscitar perguntas quanto ao que se entende por «espectáculo artístico», então este é um organismo do Estado supérfluo. Se a burocracia fala mais alto na Cultura, é mais que suficiente haver um departamento ou mesmo um pequeno gabinete que trate da papelada. O segundo problema, bastante mais sério, é o sofrimento dos animais. Se considerarmos que um espectáculo artístico pode consistir em infligir sofrimento em animais para gáudio de um certo número de pessoas, então por que razão havemos de excluir da regulamentação as lutas de cães, por exemplo? Se o interesse do público e a receita da bilheteira são o mais importante não há como defender que as touradas são boas e as lutas de cães são más. Mesmo que as últimas, apesar de existirem, sejam ilegais. Há procura daí a oferta. Não interessa, portanto, o que se está a oferecer. Para os 650 mil consumidores de touradas em Portugal, Gabriela Canavilhas é uma óptima Ministra da Cultura. Elogiada pelo crítico de tauromaquia do Correio da Manhã, Gabriela Canavilhas depressa passou a Gabriela ‘Bandarilhas’ por defensores do direito dos touros a serem deixados em paz. As touradas devem ser proibidas? Se não, porque não?

 

Publicado hoje no Metro. Deixe a sua opinião através do  21 351 05 90 ou no Jazza-me Muito. Os comentários que chegarem até quinta-feira, dia 18 de Março, às 16h, vão para o ar na Rádio Europa na sexta, dia 19, às 10h35. 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 17:39