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The Walrus and the Carpenter

por Carla Hilário Quevedo, em 30.04.10

 John Singer Sargent, Oyster Gatherers of Cancale, 1878

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publicado às 19:53

Rádio Blogue: Decisões judiciais

por Carla Hilário Quevedo, em 30.04.10

O Tribunal de Braga condenou a cinco anos de prisão com pena suspensa um homem acusado de violar uma criança de oito anos. O tribunal teve em conta o arguido não ter cadastro, ter confessado o crime e mostrado arrependimento. O tribunal de Matosinhos condenou a 16 anos de prisão o homem que, em Maio de 2009, sufocou a filha de sete anos com um cinto de roupão. «Foi uma ideia que lhe surgiu pela hora do jantar», explicou a juíza-presidente do tribunal, justificando assim a decisão durante a leitura da sentença. A pena máxima não terá sido aplicada porque «o tribunal ficou sem saber qual a motivação» do homicídio. Também no ano passado, em Julho, o Tribunal da Covilhã decidiu aplicar penas suspensas aos seis arguidos no caso do homem que morreu atado às grades de um café. Num caso de crueldade em que um homem morreu depois de ter sido sequestrado e atado de modo a não conseguir libertar-se, o tribunal optou por fazer uma condenação com penas de prisão suspensas a todos os arguidos. Sobre outro caso de crueldade ocorrido em 2006, o Tribunal de Família e Menores do Porto decidiu condenar a penas entre onze e os treze meses de internamento em centros educativos os treze menores envolvidos nos maus-tratos ao transexual Gisberta, encontrado morto num fosso de um prédio. O mais velho dos jovens, com dezasseis anos, terá pedido aos restantes que parassem as agressões que terão sido infligidas a Gisberta, ao longo de vários dias, antes de ser atirada ao fosso com água. Estes são apenas alguns dos casos criminais de que temos conhecimento através da imprensa. Os casos apresentados resultaram em decisões judiciais consideradas profundamente injustas pelos familiares das vítimas. Para estas pessoas a justiça ficou longe de ser feita. Entre a gravidade dos crimes cometidos e as penas aplicadas há um abismo. Como se os crimes tivessem sido cometidos num planeta e fossem julgados noutro. Os tribunais estão demasiado distantes da sociedade? Quem deve tornar as decisões judiciais mais claras para todos?

 

Publicado hoje no Metro. Deixe a sua opinião através do 21 351 05 90 ou no Jazza-me Muito. Os comentários que chegarem até quinta-feira, dia 6 de Maio, às 15h, vão para o ar na Rádio Europa na sexta, dia 7, às 10h35.

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publicado às 19:46

...

por Carla Hilário Quevedo, em 29.04.10

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publicado às 18:03

Maravilhosa erudição, maravilhosa

por Carla Hilário Quevedo, em 29.04.10

"Hay, sin duda, diferencias tribales, inclinaciones opuestas que irrumpen casi desde el hastío, como la braxulogia [laconismo] de los dorios (especialmente los espartanos), pero todos los griegos se sentían a sí mismos como los hablantes, en contraposición a los aglossoi [sin lenguaje], los no griegos (Sófocles), y como los que hablan de una manera comprensible y bella (lo opuesto son los bárbaroi [los barbaros], los «medrosos», cf. bra-trachoi*."

 

Friedrich Nietzsche, "Historia de la eloquencia griega", Escritos sobre retórica, edición e traducción de Luis Enrique de Santiago Guervós, Editorial Trotta, Madrid, 2000, p. 180. 

 

* Numa nota, o tradutor esclarece que a palavra em grego antigo é inventada por Nietzsche, e pretende ser um acrescento a batrachoi; batráquios, nem mais - sapos ou rãs. Fala do significado de traxús, que significa 'rude'. Na versão inglesa, no entanto, a palavra é mesmo batrachoi. Não tenho maneira de confirmar isto agora. Mas fica a ideia de que Nietzsche gostava de fazer jogos de palavras em grego antigo. Óptimo para impressionar raparigas.

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publicado às 17:55

Nietzsche redux

por Carla Hilário Quevedo, em 29.04.10

A partir de Homero, é sempre a descer.

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publicado às 17:53

As far as I'm concerned

por Carla Hilário Quevedo, em 28.04.10

Pluto's still a planet

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publicado às 19:55

O sentido da vida

por Carla Hilário Quevedo, em 28.04.10

Li um texto encantador de Joseph Epstein, editor e escritor de 73 anos, sobre a velhice. O pequeno ensaio publicado na revista Notre Dame tem o título The Symphony of a Lifetime. Como solução para acabar com os dissabores da vida, Epstein apresenta a solução proposta pelo filósofo Epicuro: esquecer Deus, a morte, a dor e os bens materiais. Mas acaba por concluir que, sem os dramas diários, a vida não merece ser vivida. Dito assim, até concordo com Epstein. Mas há que pensar melhor. Esquecer Deus podia funcionar em casos extremos. Mas, na nossa era, Deus e a prática da fé presumem mais consolo que ansiedade. Esquecer a morte parece-me uma atitude presente no quotidiano, infelizmente interrompida pela realidade e pelo desaparecimento de pessoas próximas. Tendemos, porém, a não pensar muito nela. Sobre a dor não há muito a acrescentar, a não ser que, no tempo de Epicuro (conhecido por sofrer de problemas renais), não havia Vicodin nem outros analgésicos. É também certo que a nossa vida está bastante mais facilitada. Concordo inteiramente que os bens materiais podem criar muita ansiedade. Ainda por cima dizem que a seguir à Grécia somos nós.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 16-4-10

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publicado às 19:47

À moda antiga

por Carla Hilário Quevedo, em 28.04.10

Desde que a crise grega se tornou conhecida do mundo inteiro e arredores que ando a pensar em escrever sobre o assunto. Não o tenho feito porque ter morado naquele país durante três anos não me habilita a falar sobre o estado das suas finanças públicas. Tenho, contudo, a experiência quase radical de querer fazer uma pequena obra numa casa em Atenas. À espera de uma autorização que nunca mais chegava, perguntei aos meus amigos gregos se nada funcionava no berço da democracia. Responderam com uma palavra: fakeláki. Em português, envelopezinho. Marcus Walker, no The Wall Street Journal, escreve sobre a realidade ingovernável dos fakelákia e dos rousfétia. Entre pequenos envelopes e favores especiais, os gregos chegaram ao ponto de ouvir o seu próprio primeiro-ministro, Giorgos Papandreou, a reconhecer que «o principal problema do país é a corrupção sistémica». Uma cultura de evasão fiscal e de suborno levou o país à ruína agora tão noticiada. Não foram os crimes cometidos por alguns, mas um modo de vida partilhado por todos, que arruinou o país. Quem quisesse escapar aos envelopes via a sua vida protelada para dia de São Nunca à tarde. Lá tive de mudar de casa.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 16-4-10

 

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publicado às 19:43

Eu hoje acordei assim...

por Carla Hilário Quevedo, em 27.04.10

Chloë Sevigny

 

... neste dia maravilhoso, a pensar numa máquina incrível apresentada ontem em mais um belo episódio de House. Era uma máquina que utilizava uma tecnologia sofisticada para ler pensamentos. Com os devidos cabos ligados à cabeça, as imagens eram projectadas num ecrã, certamente de alta definição. A máquina existe, mas não assim. As imagens do cérebro não correspondem aos pensamentos; ou seja, pensar em coisas de que gostamos activa uma zona do cérebro, e é apenas essa actividade que é registada nas máquinas da vida real. No episódio, apesar de estar lá a imagem que acabaria por resolver o caso, teve de haver alguém que a interpretasse; neste caso, o nosso herói House. De resto, adoro a TAC completa e verifico com agrado que a punção lombar (que deve doer) tem sido bastante menos utilizada.   

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publicado às 08:54

Not for compliments

por Carla Hilário Quevedo, em 25.04.10
John Singer Sargent, Two Girls Fishing, 1912, óleo sobre tela, 55,9x71,8 cm © Cincinnati Art Museum

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publicado às 18:03

Mas não parado

por Carla Hilário Quevedo, em 25.04.10

"Eis o modo como entre si se deveriam saudar os filósofos: «Devagar, devagar!»."

 

Ludwig Wittgenstein, Cultura e Valor, tradução de Jorge Mendes, Edições 70, Lisboa, 1996, p. 117.

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publicado às 17:57

Felizmente, em 1990...

por Carla Hilário Quevedo, em 23.04.10

"O sofrimento dá cabo das pessoas. Vira-lhes os cantos dos olhos e da boca. Torna-os inacessíveis aos encantos do mundo, que já são poucos. O sofrimento vexa, humilha, amarrota, estupidifica. O sofrimento é uma coisa que não se deve enfrentar. Não é um touro. Não é a CEE. O sofrimento é uma coisa de que se deve absolutamente fugir. É melhor sair da sala, abandonar o lar, beber uma garrafa inteira de rum, tomar comprimidos e drogas, do que sofrer. É o sofrimento que mata as pessoas."

 

Miguel Esteves Cardoso, As minhas aventuras na república portuguesa, Assírio & Alvim, Lisboa, 2006 (7.ª edição), p. 106.

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publicado às 19:57

Entretanto, em 1948...

por Carla Hilário Quevedo, em 23.04.10

"Penso que o modo como as pessoas são educadas tende a dimininuir a sua capacidade para sofrer. Presentemente, uma escola considera-se boa «se as crianças se divertem». E esse não costumava ser o critério. Além disso, os pais querem que os seus filhos cresçam como eles (só que mais), mas sujeitam-nos a uma educação muito diferente da deles. A resistência ao sofrimento não é muito cotada, porque não deve haver sofrimento; de facto, está fora de moda."

 

Ludwig Wittgenstein, Cultura e Valor, tradução de Jorge Mendes, Edições 70, Lisboa, 1996, p. 106.

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publicado às 19:52

Rádio Blogue: Educar e punir

por Carla Hilário Quevedo, em 23.04.10

Não é boa a notícia de que os alunos das escolas públicas de Temple, no Texas, arriscam a ser sujeitos a castigos corporais. Porém, o castigo das reguadas na palma da mão, apenas dadas pelo director, em privado, e em casos graves de mau comportamento, bastou para que a violência escolar diminuísse drasticamente. Quem o afirma é Steve Wright, director do conselho escolar de Temple, ao The Washington Post. Num país em que é fácil o acesso às armas de fogo, custa a acreditar que umas reguadas sejam dissuasoras de comportamentos violentos. Seja como for, resultando ou não, a solução para aqueles casos ser recuperar um castigo justamente esquecido é uma notícia triste. Assim, parece que nem os professores nem os alunos aprenderam nada. Logo agora que se começava a perceber que autoridade é diferente de autoritarismo volta a estúpida palmatória. Por enquanto, isto não acontece em Portugal, e espero que por cá a moda não pegue. A discussão sobre a falta de autoridade dos professores e a impunidade dos alunos é longa e tem sido fraca. Por um lado, os professores não podem fazer nada perante alunos que tudo podem fazer. Por outro, os alunos são largados à sua sorte numa escola que a toda a hora pede a intervenção dos pais. Neste sistema, todo ele errado, os envolvidos no delicado processo de «formar pessoas» parecem ter esquecido que a escola oferece, antes de mais, a oportunidade aos filhos de se livrarem dos pais. Numa época em que as crianças são vistas como fenómenos raros da Natureza, muitos pais, ou são negligentes, porque não percebem as habilidades modernas dos filhos, ou são super-protectores dos seus super-miúdos sobredotados. Todos nos lembramos de em pequenos termos professores que respeitávamos e com quem até aprendíamos umas coisas. Tinham a autoridade própria dos que têm interesse e gosto pelo que fazem. Os professores de agora estão cansados ou têm menos vocação? O que seria punir devidamente um aluno infractor nos dias de hoje?

 

Publicado hoje no Metro. Deixe a sua opinião através do 21 351 05 90 ou no Jazza-me Muito. Os comentários que chegarem até quinta-feira, dia 29 de Abril, às 15h, vão para o ar na Rádio Europa na sexta, dia 30, às 10h35.  

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publicado às 19:46

Eu hoje acordei assim...

por Carla Hilário Quevedo, em 23.04.10

Chloë Sevigny

 

... numa tentativa de tirar a limpo uma frase de Wittgenstein, fui dar a Cultura e Valor, um conjunto de notas manuscritas e dispersas do filósofo, organizadas por Georg Henrik von Wright, que seleccionou os 'melhores' apontamentos, excluindo os de natureza «de tipo puramente pessoal». As notas estão organizadas por ordem cronológica, com indicação da data em que foram escritas. A frase que me interessa agora é de 1948 e foi traduzida assim por Jorge Mendes (Edições 70, p. 101): «Os animais acorrem quando são chamados pelos seus nomes. Exactamente como os seres humanos». E não, não há contexto. Há pessoas que nunca acorrem a nada, por muito que as chamemos. Podem não ser capaz de ouvir, ou podem não estar atentas. Não faço ideia se as aves em geral acorrem quando são chamadas pelos seus nomes, mas talvez os golfinhos o façam. E as tartarugas? Precisamos de dizer o nome de uma certa maneira, exactamente como fazemos com as pessoas. Quanto a gatos, é provável que os siameses tenham uma reacção mais esperta que o gato Varandas, que, é preciso notar, é lindo. A questão é: os animais reagem a um som que reconhecem como o seu nome? Porque se a resposta for sim, é desta que nunca mais como carne.

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publicado às 08:22

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