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A última caça aos talentos vocais, no Ídolos, não me animou. Os concorrentes eram demasiado novinhos, à excepção da Diana, que não ganhou mas é como se tivesse ganho, e as galas eram intermináveis. Já o novo concurso de talentos da SIC, «Achas que sabes dançar?» – em inglês, «So You Think You Can Dance?» – arrisca a ser um dos programas mais divertidos da televisão portuguesa. Espero que passada a primeira fase, não cedam à tentação de prolongar os episódios além da correcta uma hora. Nesta selecção básica, em que é divertido ver como separam o trigo do joio, percebemos como cantar e dançar estimulam reacções diferentes, tanto da parte dos candidatos como do júri. Na dança há mais riscos: os cromos são super-cromos, e os que sabem dançar, sabem mesmo. A falta de meio-termo facilita a tarefa de César Augusto Moniz, Marina Grangioia e Miguel Quintão. Mas o melhor de tudo é a atitude dos três jurados perante os cromos. Como os riscos são imensos, os momentos de cromice são aceites com compreensão. Bater palmas e sorrir aos que acham que sabem dançar e estão enganados é boa ideia. A televisão também serve para as pessoas serem inofensivamente livres.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 30-4-10
Sophia Loren
... gosto de pensar que sou uma pessoa inocente que deixou de acreditar nalgumas coisas. Considero esta perda natural (acontece mais ou menos a todos), mas nem por isso me agrada. Deixei de acreditar, por exemplo, na vontade dos políticos em resolver os problemas graves deste país. É um exemplo chocho, também comum a todos; até nem parece nada de especial, mas é sincero. Quando vejo Pedro Passos Coelho, com um ar de falinhas mansas - quem lhe disse que aquela pose era credível? - a encontrar-se com Sócrates, percebo que é provável que venha a ser o próximo primeiro-ministro de Portugal. Foi hábil, sem dúvida. Mas quer saber disto para alguma coisa? Esta pergunta justifica-se num momento em que os políticos não são confiáveis. No outro dia ouvi o Pacheco Pereira a dizer que as pessoas culpavam os políticos de tudo. (E também concordo que Teixeira dos Santos é o único com cara de preocupado no governo.) É verdade; penso que mais que nunca. Mas a responsabilidade desta ideia generalizada é dos políticos, não das pessoas. Salvo raras excepções, nenhum parece estar interessado em resolver problemas. É que 'resolver' significa 'decidir', e para isto é preciso ter coragem. Coragem para dizer que não muitas vezes, por exemplo. Não ao TGV, não ao novo aeroporto, não às cinquenta mil auto-estradas em que depois ninguém circula. A última pessoa que vi com este ânimo foi Manuela Ferreira Leite. Apesar de não concordar com muito do que pregava, a senhora queria saber disto. Passos Coelho não me desagrada completamente. E não, não é nada o meu estilo - muito novinho, português, barba feita. Talvez porque num momento de inocência ainda acredite que a pose não faz o homem. A acrescentar ao caos governativo em que nos encontramos, o sol tem estado demasiado tímido para o meu gosto. E o que eu gosto de um sol bem forte, senhores!