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Parece que John Cusack e Kirstie Alley são umas nódoas na gramática, segundo conta John Metcalfe num artigo hilariante no The New York Times. Como sabemos? Porque existe um grupo no Twitter que se encarrega de policiar a escrita alheia. O grupo constituído por portadores de óculos com lentes muito grossas não só vasculha os erros dos outros como lhes recomenda, por exemplo, a utilização de formas verbais correctas. Esta obsessão em apanhar em falso anónimos e celebridades que dependem de correctores para escrever frases curtas não é exclusiva do grupo twittador. Sempre houve pessoas com olhos atentos ao deslize ortográfico, e ainda bem. Só que o Twitter tem a capacidade malvada do retweet, que permite a exposição humilhante do faltoso. Deste grupo fazem parte o Grammar Fail, Spelling Police e o Grammar Hero, que tresanda a bazófia. A polícia gramatical também está atenta a pessoas muito vaidosas (é o caso dos fundadores do Tweeting Too Hard, que ridicularizam os convencidos do Twitter) e quem escreve em maiúsculas. Toda a gente sabe que escreve em maiúsculas quem grita. Tenho um certo carinho por estes totós twittadores.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 7-5-10
Há uns dias um rapaz descontraído ia sendo atropelado à minha frente. Ia na sua calma a subir o Chiado quando um automóvel parou já quase colado a uma das suas pernas. Gritei um «cuidado!» acho que trémulo e assustado. Não foi um guincho, mas não saiu aquele «cuidado!» possante e bem projectado que devia ter saído. Ou então fiquei com uma ideia errada do som que eu própria emitira. Fiquei um bocadinho envergonhada, porque acredito que um grito bem dado com o tom de voz certo pode salvar a vida de uma pessoa. No caso do rapaz descontraído, literalmente. O carro, apesar de circular estupidamente depressa para aquele sítio da cidade, também conseguiu parar a tempo. Eu gelei com o meu gritinho fraco. Mas o rapaz descontraído continuou a andar como se não fosse nada com ele. Quem seria esta alma indiferente a carros, gritos, pessoas; enfim, alheio ao mundo caótico que o rodeava? Apesar de o considerar imprudente e muito arriscado, estava prestes a perguntar-lhe se aquela capacidade de distanciamento era um produto da leitura dos Estóicos, quando me apercebi de que estava de auscultadores nos ouvidos. A música soava em altos berros. O meu grito afinal…
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 7-5-10
Os bombistas suicidas reúnem três características que considero deploráveis num ser humano: 1) obedecem a criminosos; 2) sacrificam a sua vida desde que matem inocentes; e 3) acreditam que a morte de inocentes lhes traz uma recompensa no outro mundo. O sonho do muçulmano fanático é o pesadelo de um cristão sincero. Apesar da ideia central de fazer o bem desinteressadamente ser cada vez menos popular hoje em dia, e de a noção de retribuição (no sentido de esperar o bem dos outros só porque se cometeram bons actos) ter ocupado um lugar excessivo e maléfico nas nossas vidas, nenhuma alma decente percebe que o céu seja ganho à custa de explodir inocentes. O que nos separa é tudo. Mas um jornal australiano deu uma boa notícia na semana passada. Com a morte dos líderes da Al-Qaida, Abu Omar al-Baghdadi e Abu Ayub al-Masri, o futuro da profissão dos profissionais sem futuro, a de bombista suicida, está em perigo. A decapitação da liderança de topo e os reforços de segurança na fronteira com a Síria são os motivos apontados pelo General Ralph Baker para a dificuldade de recrutamento. É uma bela notícia! Nunca a extinção de um posto será tão festejada.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 7-5-10