Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



...

por Carla Hilário Quevedo, em 08.06.10

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:18

O país já não pára

por Carla Hilário Quevedo, em 08.06.10

Há pelo menos uma década que não assistia ao Festival da Eurovisão. Aconteceu, no entanto, estar naquele sábado à noite na companhia de amigos que insistiam em ver a participação da cantora da Arménia. Lá apareceu a Eva Rivas, a cantar sobre caroços de alperce, apertada num espartilho que satisfez fellinianos e edipianos presentes na sala. Dizem que o Festival da Eurovisão é o cúmulo do kitsch, por isso agrada tanto a intelectuais como aos outros. Como se de Inglaterra ou França, à Europa profunda da Turquia e de Israel, houvesse uma derradeira possibilidade de nos unirmos. Na piroseira, bem entendido. Houve gémeas borboletas da Bielorrússia, pianos duplos da Roménia, um mini-espectáculo de pirotecnia da Turquia e senhoras viçosas da Islândia. O candidato da vizinha Espanha cantou duas vezes o seu tema, e assim não tivemos outra alternativa a não ser fixar o verso «algo pequeñito, algo chiquitito», dedicado às crianças, mas que soa tanto a desconsolo. Sobre a participação de Portugal, é notório que Filipa Azevedo não destoou do ambiente geral, ao contrário da concorrente da Alemanha, que se apresentou descaradamente de vestido preto e conquistou o primeiro lugar.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 4-6-10

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:11

Edie Falco – a vingança

por Carla Hilário Quevedo, em 08.06.10

Depois de anos ao lado de um marido homicida e adúltero, Carmela Soprano abandonou o lar da Máfia de Nova Jérsia e decidiu abraçar a nobre profissão de enfermeira. Até aqui, na verdade, pouco parece distinguir os papéis desempenhados pela actriz Edie Falco em The Sopranos, e na mais recente série do canal Fox Next, Nurse Jackie. Mas logo no primeiro episódio, percebemos que a comparação a ser feita é entre a enfermeira Jackie e o médico House (antes da desintoxicação). Jackie é casada, tem duas filhas, e é viciada em analgésicos em geral e no célebre Vicodin em particular. Pressentimos que mantém uma relação extra-conjugal com o farmacêutico do hospital porque é o dealer ideal, mas isto não faz da enfermeira uma oportunista e má pessoa. Jackie tem uma vida dupla. Não é só o marido que não sabe do seu caso, mas também o amante não faz ideia de que é casada e tem filhos. O interesse da série depende da complexidade da protagonista. Jackie é um caos na sua vida privada, e é a única pessoa decente num hospital de médicos incompetentes ou indiferentes. A enfermeira Jackie é um desastre moral, mas nenhum espectador sensato vai querer que seja apanhada.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 4-6-10

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:07

Diz-me quem recrutas, dir-te-ei quem és

por Carla Hilário Quevedo, em 08.06.10

Uma notícia no Guardian chama a atenção para os riscos de participantes em concursos de talentos. O programa na berlinda é o conhecido Britain’s Got Talent, que nos deu a estrela do YouTube, Susan Boyle. Ter ido parar ao hospital com um esgotamento por ter ficado em segundo lugar no concurso foi um pormenor menos noticiado, mas que deve dar que pensar. O recrutamento dos candidatos é a principal preocupação das instituições de saúde mental britânicas, que acusam Simon Cowell e a produção de negligenciar situações delicadas de participantes como Alyn James, um homem de 60 anos, dentista reformado, a quem foram diagnosticadas graves perturbações mentais. Apesar de ter avisado sete vezes a produção de que os médicos consideravam que corria o risco de se suicidar, pôde participar numa audição. Após ter sido ridicularizado no programa, James piorou. Este caso é só um exemplo de vários repetidos em programas de humor e em concursos deste tipo. Pessoas com fraca estrutura psíquica e emocional são usadas como bombos de uma festa que não é delas. Há uma regra fundamental no jogo de ridicularizar o próximo, que vem do Faroeste: nunca se dispara a quem não está armado.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 4-6-10

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:03

Legendas, precisam-se

por Carla Hilário Quevedo, em 08.06.10

O filme brasileiro Estômago, aplaudido pela crítica e premiado em festivais de cinema no Brasil e na Europa, estreou em Portugal. A história é divertida. Raimundo Nonato é um rapaz ingénuo do Nordeste, que parte para Curitiba. À chegada come umas coxas de frango num botequim, mas não tem como pagar. Mas tem um talento: sabe cozinhar. A história progride com Nonato a trabalhar no botequim e a fazer as melhores coxas de frango da zona. Conhece uma prostituta amante da boa comida, e é convidado pelo dono de um restaurante de «comida familiar» para estar na cozinha. Aí aprende tudo o que mais tarde o irá salvar na prisão. É que Nonato sabe cozinhar e sabe comer, mas não sabe beber: é bom cozinheiro e um assassino. As duas histórias – antes e na prisão – são contadas em simultâneo. Ainda assim, nem sempre o ritmo é aquele que se desejaria. Os diálogos são bons, sempre que são entendidos, o que nem sempre acontece por causa dos sotaques cerrados. O calão é difícil de perceber e o som está baixinho, como num típico filme português. Mas a maior crítica vai para o final, que me pareceu preguiçoso. O último crime é premeditado (improvável em Nonato) e inútil. Mas gostei.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 4-6-10

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:57