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Ready to Wear Chanel por Karl Lagerfeld, Outono-Inverno 2010-11
Up in the Air (muito bom). The Cry of the Owl (volta Patricia Highsmith, estás perdoada).
Daisy Lowe
... e esta brisa matinal? É uma surpresa meteorológica bem-vinda, mesmo para os animais de sangue frio, que começavam a armazenar demasiado calor. Muito poucos excessos são bons, apesar de alguns terem o seu interesse. Há gente que prefere cães e gatos a pessoas; um gosto que me parece um bocado freak, mas que aceito. Lembremos Schopenhauer e o seu cãozinho, por exemplo. Há imensos misantropos que só apreciam a companhia dos não humanos, e cada um terá os seus motivos. Por mim, brinco melhor com os que gostam de cães, gatos, pombos, homens, mulheres, velhos, crianças, flores, cactos, e mais e mais. É comum encontrar pessoas que gostam de pessoas e também de outro tipo de bichos. É uma multidão que sabe, enfim, que fazemos todos parte do maravilhoso reino animal. Mas é sem dúvida curiosa coincidência tantos tiranos célebres apreciarem os seus animais de estimação. O problema é quererem acabar com a espécie humana. Saddam Hussein e Adolf Hitler gostavam muito dos seus cães. É irresistível pensar que era gente que gostava de mandar; e mandar em pessoas é difícil. A menos que se tenha uma arma na mão. Já várias vezes reconheci vestígios desta característica em gente que dizia adorar gatinhos e afins, mas que maltratava toda a gente e não era capaz de se relacionar com ninguém. O desapontamento em relação aos outros era constante. Tinham expectativas malucas e imensas desilusões. O problema estava sempre nos outros, infelizmente diferentes dos seus animais de estimação, que estavam sempre à mão, e com os quais era tão fácil lidar. Se isto é gostar seja do que for, vou ali e já venho.
I heard a thousand blended notes,
While in a grove I sate reclined,
In that sweet mood when pleasant thoughts
Bring sad thoughts to the mind.
To her fair works did Nature link
The human soul that through me ran;
And much it grieved my heart to think
What man has made of man.
Through primrose tufts, in that green bower,
The periwinkle trailed its wreaths;
And 'tis my faith that every flower
Enjoys the air it breathes.
The birds around me hopped and played,
Their thoughts I cannot measure:
But the least motion which they made
It seemed a thrill of pleasure.
The budding twigs spread out their fan,
To catch the breezy air;
And I must think, do all I can,
That there was pleasure there.
If this belief from heaven be sent,
If such be Nature's holy plan,
Have I not reason to lament
What man has made of man?
Daisy Lowe
... salvo erro, são os animais de sangue frio que suportam as temperaturas altas e precisam do calor para se aquecer. Crocodilos, cobras, lagartos e toda a espécie de reptilada antipática e difícil de amar vivem muito bem no ambiente ameno dos quarenta e um graus. Enquanto os outros bichos arfam e suam para se libertar do excesso de calor, estes gozam as altas temperaturas; estão nas suas sete-quintas. Os animais de sangue quente, por seu lado, não precisam do calor, por isso sofrem muito nestes dias. É o caso do gato persa, que deixou de ser visto nos sítios habituais. Talvez esteja dentro do frigorífico. E por falar em mamíferos, mil vivas à Catalunha! Mil vezes bravo!
- Quizá hayan sido ellos, Borges, quienes lo llevaron a la concepción de esa frase: 'La realidad es siempre anacrónica'.
- De quién es esa frase?
- Suya... (rie).
- Yo creo que usted acaba de regalármela.
- No, no.
- Estoy de acuerdo con ella, pero estoy tan de acuerdo, que me parece ajena, no? Yo generalmente estoy de acuerdo con lo que leo, y no con lo que se me ocurre a mí.
Jorge Luis Borges, Osvaldo Ferrari, Diálogos, Seix Barral, Barcelona, 1992, pp. 220-1.
O procedimento cirúrgico anunciado no primeiro episódio da última temporada de Nip/Tuck, uma série falhada e muito decepcionante, foi a vaginoplastia. Estávamos à espera do último grito na correcção ou modificação estética, mas a ficção não foi capaz de ultrapassar a realidade comum em muitos países. O último grito em cirurgia estética não é a vaginoplastia: é o vampire facelift. O nome leva qualquer pessoa a pensar na moda dos vampiros que assolou o planeta e nada disto será por acaso. A CBS e a Salon anunciaram o procedimento como estando relacionado com a loucura vampírica que se faz sentir há quase dois anos. Mas a operação tem pouco ou nada que ver com os filmes. Fazer um lifting vampiresco consiste em injectar o próprio sangue devidamente tratado nas rugas e fazer um tratamento semelhante ao que se faz com o botox. Como os tecidos sanguíneos utilizados são do próprio paciente, os riscos de alergia habitualmente sofridos com o colagénio são muito menores. Ainda são poucos os adeptos desta modalidade radical de preenchimento de rugas. Esperemos sem perturbações inúteis que o filme Frankenstein nunca mais volte a estar na moda.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 23-7-10
Anna Karina (bem acompanhada)
... temos andado - o animal divino, o vosso animal humano e o célebre animal não humano - todos à procura de uma referência de Borges numa entrevista à confusão que se fazia com o seu nome. Tudo por causa do que contou Pacheco Pereira a propósito de uma gaffe gabriélica. Embora seja este o fim desta busca, a própria demanda tem sido motivo de grandes alegrias. Temos passado os dias entre inúmeros «tens de ouvir esta!». As entrevistas - são seis livros - são a beleza que imaginam e mais ainda, e cada frase de Borges merece atenção, reflexão e sorrisos. Por exemplo, no capítulo em que fala de escritores russos, na obra Diálogos, com Osvaldo Ferrari, diz que «hay una frase terrible de...», logo seguida do nome do autor: Hegel e Kierkegaard são os dois casos. Só um espírito sensível e sofisticado sabe que está perante uma frase terrível. Não há o mais leve tom de indignação nas palavras de Borges. É realmente outra coisa. E assim a família continua à procura da tal referência a José Luis Borges. Entretanto, vejo que o estimado Jansenista não terá gostado muito da minha crítica à Associação Animal. As imagens no seu blogue são apenas a realidade conhecida e medonha da tourada, cuja proibição defendo, como sabe. Não sou, no entanto, apreciadora das performances tão caras a este grupo. Na minha opinião, este tipo de manifestação não ajuda a causa, apesar das suas boas intenções. Porque ninguém percebe o que estão a fazer três activistas deitados no chão. A fazer de touros? Os defensores dos direitos dos animais - ou pelo menos, aqueles que defendem a proibição das touradas - levam a sério o que defendem. E fazer teatro independente com uma questão importante é desrespeitar o que defendemos. O estilo pode fazer toda a diferença num debate que não deve, de modo algum, ser sentimentalizado. Having said that, é uma boa associação.
No ano passado apareceu a ideia revolucionária na escola básica de Lagoa Negra, em Barcelos, de separar 17 crianças de etnia cigana dos restantes alunos. O projecto considerado pela responsável da DREN como sendo de «discriminação positiva» deu muito que falar na altura. O projecto foi contestado pelos partidos de esquerda e por muitos comentadores porque se baseava numa ideia de segregação. Apesar das dificuldades de integração destas crianças, não as integrar numa sala de aula normal poderia levar a um afastamento ainda maior da comunidade. Sem contestar a bondade das intenções, a ideia era pouco clara, além de não garantir uma maior aprendizagem por parte dos alunos «excluídos», ou numa linguagem mais politicamente correcta, «protegidos». Surge agora uma nova polémica com a comunidade cigana no Bairro das Pedreiras, em Beja. O problema é antigo mas volta a estar na ordem do dia por causa de uma queixa em Bruxelas por parte de uma organização não-governamental que acusa a Câmara de Beja de segregar a comunidade. O muro de betão construído em torno do bairro e as condições «deploráveis» em que estas pessoas vivem mereceram a atenção do bispo de Beja. D. Vitalino Dantas acusa os responsáveis governamentais de terem arranjado uma solução «muito primária e feita a correr» para realojar uma comunidade que vivia num bairro de lata. Também a alta-comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, manifestou o seu desagrado quanto à existência do muro, dizendo que «todas as soluções que acabem na criação de guetos não são soluções felizes». As razões para a construção do muro de betão foram dadas pela ex-vereadora da Câmara de Beja. A segurança dos moradores terá sido o motivo principal para tão polémica construção. Maria Manuel Coelho terá explicado numa carta ao Público que o muro foi construído para proteger as pessoas «da circulação intensa de camiões na estrada que passava junto às casas». O Estado português tem legitimidade para segregar pessoas? Os vizinhos toleram as comunidades de difícil integração, desde que vivam em guetos? Como se soluciona este problema?
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... em várias das centenas de entrevistas dadas por Jorge Luis Borges, sobre a confusão que era costume fazer-se com o seu nome, deixo aqui um excerto de uma entrevista televisiva, em que faz uma distinção entre amizade e amor.