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Não se fala o suficiente sobre a depressão online. Talvez por ser difícil determinar se a pessoa ficou deprimida desde que abriu uma conta no Facebook ou se já estava deprimida quando escolheu viver numa rede social. Há, no entanto, outras novas doenças mais fáceis de caracterizar. O simples movimento de clicar milhões de vezes por dia no rato pode resultar em inflamações. A tendinite é um dos males mais vulgares nos que usam e abusam do computador. Problemas de costas e vista cansada são outras maleitas habituais nos que vivem colados à cadeira, ao teclado e ao ecrã. Este cenário de decrepitude física é uma das ironias trágicas deste modo de vida moderno, que consiste em agir o mais depressa possível, quase sem se mexer. Detectei no outro dia uma novíssima doença em utilizadores do BlackBerry e iPhone: a síndrome da cabeça baixa. O utilizador típico destes aparelhos sofisticados anda mais curvado, tem dores cervicais que nunca «têm nada a ver com o telefone» e tende para uma espécie de isolamento galhofeiro. A melhor observação que os amigos lhe podem fazer é: «Andas muito cabisbaixo. Estás triste?». Só para poder responder: «Não. Tenho um iPhone».
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 27-8-10
Mabel Hewit, Sun Bathing, 1937. À procura de um Matisse, descobri o site espantoso do museu de arte de Cleveland. Porque é que em Portugal não se consegue fazer quase nada de qualidade comparável?
"Those who joke in appropriate ways are called witty, or, in other words, agile-witted. For these sorts of jokes seem to be movements of someone's character, and characters are judged, as bodies are, by their movements."
Aristotle, Nicomachean Ethics, translated by Terence Irwin, 1128a10-12, Hackett, 1999, p. 65.
by Dorothy Parker*
Should they whisper false of you,
Never trouble to deny;
Should the words they say be true,
Weep and storm and swear they lie.
* , cujo dia de aniversário foi celebrado no Tradução.
Ava Gardner
... caro Helder, tem razão. É curiosa, aliás, a escolha de tradução aqui para bravery e não a habitual courage, passo o parêntesis. Daí o ridículo da resposta de Lobo Antunes às ameaças boçais de bofetadas: «Não tenho medo do confronto físico». Aos quase setenta anos, se não tem, devia ter. O medo faz parte da pessoa corajosa. Que enfrenta, precisamente, o que teme. Li, entretanto, a declaração que estará no centro da polémica. A proposta abre um debate interessante: o que é uma guerra com limites, etc. Mas Lobo Antunes achará que não tem nada a explicar, o que mina a sua actividade de intelectual e escritor. Quanto ao arrependimento, nunca o respeitei muito, não.
"The brave person is unperturbed, as far as a human being can be."
Aristotle, Nicomachean Ethics, translated by Terence Irwin, 1115a12, Hackett, 1999, p. 41.
Ava Gardner
... não faço ideia do que terá escrito Lobo Antunes que desagradou tanto aos militares. Mas para o caso, é irrelevante. O que me parece mal é estar a ser criada uma confusão perigosa entre coragem e cobardia. O artigo de ontem de Ferreira Fernandes contribui para esta confusão. Não valeu a pena tanta indignação e a asneira sonante no titulo. Até porque a lista apresentada por FF vale para os dois lados: se quisessem chegar a roupa ao pêlo ao controverso septuagenário - gentlemen, please! - tinham tido muitas oportunidades para o fazer. Hoje Ferreira Fernandes volta a escrever sobre o tema, desta vez dando um puxão de orelhas a quem surpreendentemente não concorda com ele. Factos? Uma pessoa é corajosa porque até sai de casa? É este o argumento? Como Lobo Antunes não fugiu (do país, suponho), casou e foi ao supermercado, é corajoso? Lembro que uma pessoa corajosa diz o que pensa e defende as suas ideias. Um bom momento para apresentar os motivos por que acredita no que escreveu é num debate. Quando é convidado a apresentar as suas ideias polémicas numa conversa pública, comparece; mesmo que seja desagradável ou naquele dia não esteja para aí virado. Não ir é fraco. Mas parece que hoje em dia esta ausência é correcta. Não é. Em parte nenhuma do mundo. E não, ninguém está realmente a falar de bofetadas.
A artista australiana judia Jane Korman filmou o seu pai, de 89 anos, e os seus três filhos a dançar na entrada lúgubre de Auschwitz, em Dachau, e em Lodz, ao som de uma versão de I Will Survive, inicialmente cantado por Gloria Gaynor. O pai, Adolk Korman, sobrevivente do nazismo, festeja a sua sobrevivência numa coreografia divertida com os netos. Jane Korman contou ao Há’aretz que a ideia surgiu quando se apercebeu do ódio a Israel e aos judeus na Austrália. Numa viagem à Polónia, decidiu enfrentar o passado de uma maneira diferente. Contou, para isso, com o apoio do pai, embora não da mãe, também ela sobrevivente de Auschwitz, que não quis acompanhar a família na viagem. Os Korman foram acusados de desrespeitar as vítimas do nazismo e os sobreviventes dos campos de concentração. Mas o vídeo não dá assim tanta vontade de rir. Acima de tudo, comove quem vê. A escolha de Adolk não apagou o seu passado de vítima – um rótulo que ninguém faz por ter – mas o riso melhorou o seu presente. Adolk desrespeitou um passado de terror. Cuspiu no que é abjecto e vingou-se à sua maneira. Fez muito bem. Só o tema musical me pareceu ligeiramente gay.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 20-8-10
Emily Blunt
... Agosto caminha para o seu fim com uma polémica excitante a forçar uma rentrée prematura: a morada de Passos Coelho. Diz que o homem mora em Massamá e que isto tem um significado qualquer. Cá está um 'argumento' que convenientemente esquece ladrões da Lapa e homens que dão a sua chapada na mulher (nas palavras memoráveis de Maria Teresa Horta, que tive o gosto de conhecer) nas melhores casas das Amoreiras. O problema de Passos Coelho está, infelizmente, longe da sua morada. Preocupante desde o início é quem o rodeia, acompanha e aconselha, como apontou ontem Vasco Pulido Valente no seu artigo. Não sei se querem falar sobre as moradas destas pessoas. Entretanto, sugiro a PPC que responda com um verso de Adoniran Barbosa: «Moro em Massamá, se eu perder esse trem, que sai agora às onze horas, só amanhã de manhã...»
A reportagem da More Intelligent Life é uma maravilha para quem gosta de bichos e fotografia. As maldades que fazemos aos animais de estimação foram captadas por Tim Flach. Na imagem temos Andy, um Puli húngaro, cão pastor, que nas mãos de uma alma de cabeleireira dá nisto.