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A artista australiana judia Jane Korman filmou o seu pai, de 89 anos, e os seus três filhos a dançar na entrada lúgubre de Auschwitz, em Dachau, e em Lodz, ao som de uma versão de I Will Survive, inicialmente cantado por Gloria Gaynor. O pai, Adolk Korman, sobrevivente do nazismo, festeja a sua sobrevivência numa coreografia divertida com os netos. Jane Korman contou ao Há’aretz que a ideia surgiu quando se apercebeu do ódio a Israel e aos judeus na Austrália. Numa viagem à Polónia, decidiu enfrentar o passado de uma maneira diferente. Contou, para isso, com o apoio do pai, embora não da mãe, também ela sobrevivente de Auschwitz, que não quis acompanhar a família na viagem. Os Korman foram acusados de desrespeitar as vítimas do nazismo e os sobreviventes dos campos de concentração. Mas o vídeo não dá assim tanta vontade de rir. Acima de tudo, comove quem vê. A escolha de Adolk não apagou o seu passado de vítima – um rótulo que ninguém faz por ter – mas o riso melhorou o seu presente. Adolk desrespeitou um passado de terror. Cuspiu no que é abjecto e vingou-se à sua maneira. Fez muito bem. Só o tema musical me pareceu ligeiramente gay.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 20-8-10