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O mundo virtual não é diferente de outro habitado por seres humanos. Nem os seus intervenientes, por mais avatares, pseudónimos e identidades que adoptem nas redes sociais e nos blogues, se transformam por magia noutras pessoas. Se assim fosse, como poderíamos responsabilizar os que passam os dias a difamar pessoas em caixas de comentários? Ninguém é outro por ter banda larga. Decorre desta certeza que crimes praticados online sejam de idêntica gravidade aos perpetrados na chamada «vida real». Precisamente porque não somos «outras» pessoas perante a lei. A esquizofrenia é uma doença grave, e o termo não deve por isso ser gasto a descrever um modo de vida que se baseia num aparente desdobramento de personalidade, mas que afinal se resume a dizer uma coisa no Facebook e outra em casa. Há diferenças a respeitar entre a doença mental e a cobardia. Felizmente, na maioria dos casos, o interesse dos intervenientes nas redes sociais consiste em comunicar, partilhar e fazer parte de uma comunidade. A felicidade que provém da comunicação, da partilha e da participação num grupo é o aspecto mais profundamente sério de uma vida online. Que não é diferente de outra.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 10-9-10
Elizabeth Taylor (bem acompanhada)
... no tradicional almoço de sexta, conversámos sobre a dívida de Portugal ao exterior. Perante o cenário catastrófico de devermos 450 mil milhões de euros, a possibilidade de solução colocada em cima da mesa - diria que literalmente - foi a do perdão de parte da dívida. Nunca vamos poder pagar o montante inimaginável que devemos. Nem que nos tornemos alemães no trabalho e noruegueses na poupança. O montante também revela que, de certa forma, o país deixou de ser nosso. Não é que alguém de facto esteja interessado na propriedade Portugal, mas um país com um buraco financeiro tão grande não pertence ao seu povo. É como ficar a dever para sempre as férias em Cancun (o exemplo preferido de Medina Carreira) ao cartão de crédito. Aquelas férias na verdade não pertencem às pessoas que as tiraram. Foram férias a brincar, ou de faz-de-conta, como queiram. Não fazendo ideia de como isto se resolve, chegámos à conclusão de que negociar o perdão de vinte por cento da dívida devia estar na agenda em Bruxelas. Só para ver se conseguíamos, à mesma com um grande esforço, pagar o que resta. Perante este estado paralisante de coisas, não nos suscitou interesse falar sobre a Casa Pia e os problemas informáticos do Acórdão, nem sequer até que ponto deveria ser abreviado o futuro da criatura que há uns dias matou a mãe em Coimbra.