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O discurso sobre a crise não é saudável. A dívida pública, o desemprego, a crise tomaram conta do ar de que precisamos para viver. As notícias sobre uma possível vinda do FMI, que nos poria a todos na ordem, sobre os juros da dívida a aumentar, e a falta de dinheiro em geral asfixiaram o quotidiano das pessoas. Em vez de nos ser dada tranquilidade para sair do buraco, somos confrontados com discursos que oscilam entre o optimismo delirante e o derrotismo irremediável. Depois de termos ouvido as recentes más notícias sobre o novo pacote de medidas de austeridade inserido no Orçamento de Estado para 2011, recordamos que era bom terem dito que não havia dinheiro para nada e que as contas estavam descontroladas. Que ia ser preciso cortar e fazer sacrifícios, a começar pela não renovação das frotas de automóveis dos organismos públicos. Mas não. Ninguém com responsabilidade governativa achou por bem fazer a coisa certa. E fazer a coisa certa, neste caso, não era difícil: consistia apenas em cumprir a obrigação de dizer a verdade aos portugueses. Não o tendo feito, o governo adiou medidas que agora se revelam dolorosas para todos. Cortes de salários na função pública e congelamento das pensões são duas dessas medidas que vão afectar directamente a vida das pessoas. O aumento do IVA para 23 por cento é outra que se prevê ter sucesso para ajudar a controlar o défice. Não sendo economista nem fiscalista, mas aproveitando o momento para declarar o meu repúdio pela discussão que nos obrigam a ter, diria que isso se calhar depende da despesa que se faz. Ora, se não há dinheiro para comprar nada, como espera o Estado receber mais de um imposto aplicado a bens de consumo? Para terminar o dia de pesadelo, Almeida Santos declarou que «o povo tem que sofrer as crises como o governo as sofre». Há uma mentira e um disparate nesta frase. A mentira é o governo sofrer como sofre o povo. O disparate consiste em pedir aos pacientes que entendam o sofrimento dos médicos. O que pensa das novas medidas de austeridade?
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Kate Moss
... a propósito do que escrevi aqui e aqui sobre estar apaixonado, um leitor enviou-me um YouTube em que é revelada a neurotreta em todo o seu esplendor. Helen Fisher dedicou a sua vida a estudar o cérebro de criaturas em estado de paixão e desenvolveu uma teoria que se baseia exclusivamente no estudo das reacções de uma condição inexplicável. Que os níveis de dopamina estejam mais elevados numa pessoa apaixonada não explica o seu estado. É como explicar a doença pelas suas reacções. Mas não explica porque é que nos apaixonamos por aquele e não por outro. Não indica, portanto, uma causa. Pior: trata possíveis efeitos como causas. A impossibilidade de explicação está, aliás, presente num exemplo dado por esta bióloga antropóloga, amante das TAC. Numa situação de sexo ocasional, pode acontecer que os tais níveis de dopamina subam. E? O exemplo ilustra a falta de consistência da sua teoria. Entretanto, ontem percebi que estar apaixonado e ter uma epifania são coisas diferentes. Há uma disposição para ter uma epifania que não existe no caso da paixão. Posto isto, não sei explicar porque é que me aconteceu o que me aconteceu e me fez mudar de ideias. Mas talvez, isso sim, para mudar de ideias, seja preciso estar num certo estado.