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Querem um name-dropping a sério? Ora então cá vai: Pão com Chouriço de Porco Preto, Baguete Rústica, Pão de Forma Enfarinhado, Fofos, Trança de Cereais, Croissants Enfarinhados de Cereais, Flores de Cereais Enfarinhados, Caras, Pão de Queijo Parmesão, Baguete de Queijo Parmesão, Vianinha, Pão Tigre Pequeno, Broa Simples, Broa com Chouriço de Porco Preto Montanheira, Broa com Farinheira de Porco Preto Montanheira, Pão Carcaça de Bico, Baguete de Mistura, Pão de Passas e Nozes, Pão de Mafra em Forma. E mais e mais!
Os moradores antigos e frequentadores assíduos da Av. de Roma e suas perpendiculares sabem que as boutiques e as papelarias há muito deram lugar a lojas de telemóveis e bancos. A mudança do tipo de comércio nesta zona lisboeta outrora concorrida pode ser uma explicação para o seu fraco movimento. Mas isto vai mudar. No número nove da Av. João XXI encontramos uma tentativa séria e com qualidade de recuperar a vida de bairro tão característica da zona. A Padaria Portuguesa é uma pastelaria muito completa, onde se vendem qualidades variadas de pão (desde as deliciosas caras às brilhantes arrufadas); bolos de pastelaria célebres, como a bola de Berlim com creme (as miniaturas são uma enorme tentação) ou as queijadas de requeijão; e se servem sopas, empadas de espinafres e sanduíches de carne assada como há muito não se saboreavam na capital. Exclusivamente ao som de música portuguesa, os funcionários das lojas circundantes almoçam, as senhoras tomam chá e as crianças lancham. A Padaria Portuguesa é boa para a cidade e o primeiro passo para recuperar a vida de bairro que se julgava perdida. E abre das oito da manhã às oito da noite todos os dias, incluindo domingos.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 26-11-10
Elizabeth Taylor
... parece que se toca num ponto sensível quando se critica o Facebook. Não é minha intenção aborrecer ninguém, mas percebo os riscos de estar a criticar um modo de vida, pois é disso que se trata. Admito que possa agora estar numa posição semelhante à dos desconfiados jarretas do boom dos blogues. Há, no entanto, diferenças entre os dois meios e elas estão bem à vista. Mesmo o blogue mais intimista e radical na sua exposição diária não falaria de uma maneira tão seca de factos do seu quotidiano. Não partilharia as fotografias do jantar da empresa ao seu círculo restrito e privado de 478 amigos, no dia seguinte ao sucedido, sem perguntar nada aos participantes e colegas. Outra coisa: não passaria pela cabeça de nenhum blogger citar versos de Camões e Pessoa sem lhes atribuir a devida autoria. Parece que no Facebook isto é frequente e as reacções a "Alma minha gentil, que te partiste", subitamente assinados por esses grandes poetas ignorados, Maria Andrade ou Pedro Sousa, são qualquer coisa como «Lindo!», «És o maior!» e outras idiotices do género. E os problemas que o Facebook traz? Diz-me um facebookista que com ele não há cá mensagens privadas no mural. Sempre que um "amigo" se aventura a revelar demais à vista de todos, ele apaga a mensagem, escreve à pessoa e diz-lhe das boas. Com a quantidade de problemas que a vida tem e ainda há amigos a fazer chamadas de atenção a outros, sem pensar no que significa dizer a alguém que está a ser indiscreto. Aos que argumentam que depende da sensibilidade das pessoas respondo que, infelizmente, há sempre quem não percebe a diferença entre ser bem tratado e maltratado. Gostaria ainda de dizer que a privacidade no Facebook é um logro. Isto é pequeno, todos temos a experiência de conhecer um amigo de um amigo de Facebook que lhe diz: «Olha, vi a tua fotografia em casa de não sei quem». Como isto já vai longo, passemos à parte boa. O Facebook é uma comunidade, e como tal - aliás, como acontece nos blogues - há sempre quem tenha o espírito saudável de união e respeito pelo próximo e o cultive na rede social. Creio apenas que o preço da pertença facebookiana é demasiado alto. E o custo da vida está pela hora da morte.
* Um ponto interessante sobre o modo de vida no Facebook e em alguns blogues. Mas...
A propósito de 'contar tudo', apresento a Miss November do calendário Miss TSA 2011.
Elizabeth Taylor
... não sei quando comecei a ser forreta na partilha da felicidade, mas só vos digo que é uma forretice boa. Sempre achei que a partilha da alegria era natural e ela própria divertida. Em relação a certos aspectos superficiais - sítios giros, etc. - creio que continuo a ter a mesma atitude. Apesar de ser habitualmente moderada na minha própria exposição, mais que nunca escolho não partilhar factos sobre a minha vida. Talvez seja uma reacção a esta era do Facebook que incita a que todos contem tudo sobre si próprios; do mais importante ao mais insignificante, alegrias e tristezas. É uma actividade que esgota qualquer pessoa. Diria que literalmente, na medida em que chegará ao ponto de nada mais restar para si; a um ponto de perda da sua própria vida. A nossa vida pode não ser inteiramente nossa (não temos um controlo absoluto sobre ela), mas é um bocado nossa, que diabo. Escolher relatar em público o que no quotidiano nos faz feliz ou infeliz ou mais ou menos é uma atitude despudorada e moderna. E, deste modo, é uma conduta imprópria de uma alma antiga.
Esta foi a fotografia que me inspirou a fazer a série Vida real. Chega aqui só agora porque sim. Tirei-a num dia de Verão escaldante; num daqueles por que hoje suspirei. O bicho parecia sossegado mas não me atrevi a chegar perto. O cão era um grande cão. Gostei do estilo 'menina estás à janela', com a pata descontraidamente de fora. Estava a aproveitar os quarenta graus.
... do tema, parece que foi aprovado mais um plano de combate à violência doméstica. Mas o problema de 'passar a mensagem' mantém-se. Não acredito que a campanha da pulseirinha dissuada os agressores. Porquê tanta timidez no combate ao crime?
A propósito do Dia Internacional Contra a Violência contra as Mulheres, um grupo de homens de Setúbal prometeu tapar as estátuas femininas no centro histórico da cidade. Segundo o presidente da Associação Homens Contra a Violência, José Manuel Palma, a acção simbólica de tapar as estátuas serviria como uma chamada de atenção para «a cultura desculpabilizante da violência nas relações íntimas». Imaginei logo que as estátuas representariam figuras femininas sem roupa daí a necessidade de as tapar. Mas não conheço as referidas estátuas em Setúbal e não percebi a relação entre as vítimas da violência doméstica e o acto de tapar as figuras. Serem de mulheres parecia ser o que movia este grupo de cidadãos talvez bem-intencionado mas pouco eficaz. Da acção de protesto contra a violência de género fazia ainda parte a leitura de alguns textos certamente escolhidos a dedo para a ocasião. Não pondo em causa a realização destas actividades de rua, como leitora de jornais, potencial transeunte de passagem por Setúbal e, porque não, como mulher, exijo mais cuidado com o modo como estas questões são tratadas. Exijo mais qualidade no protesto, que é sério e sobre um tema grave. Morreram este ano ainda mais mulheres às mãos daqueles com que partilhavam a sua intimidade. Apesar de a violência doméstica ser um crime público, a realidade continua a desafiar a lei. Em suma, o problema precisa de soluções eficazes e não de acções simbólicas. Se é certo que a participação de homens em campanhas contra a violência doméstica é importante, não deixa de ser menos relevante o modo como se manifestam. As estátuas tapadas podem representar a morte de mulheres mas a acção abre espaço a interpretações erradas. Ou a uma simples associação de ideias. Enquanto em Setúbal as estátuas são tapadas, Silvio Berlusconi, em Itália, manda restaurar o pénis e as mãos das estátuas de Marte e Vénus que tinha no seu gabinete. Um simbolismo demasiado simbólico nunca é útil ao protesto que se pretende inequívoco. O que pensa desta acção simbólica? A violência doméstica é pouco levada a sério no nosso país?
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Nancy Botwin: That whole sexist thing, that whole oppression thing. Why do you do that?
Hooman Jaka: You guys scare the shit out of us.
No décimo primeiro episódio da sexta magnífica temporada de Weeds.