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Em conversas sobre redes sociais, manifesto sempre a minha desconfiança quanto ao Facebook e saio em defesa do Twitter. Como argumentos a favor, apresento a brevidade refrescante dos 140 caracteres e a possibilidade de interagir num sistema de partilha de links e informação em tempo real. Tudo no Twitter é breve, imediato e público. Tal como acontece nos blogues, qualquer pessoa que não tenha uma conta no Twitter pode aceder às outras. E de novo tal como acontece nos blogues, é possível ter uma conta privada, que será seguida apenas por alguns. Nas contas de Twitter e nos blogues abertos ao público, os leitores seguem o que é escrito, sem restrições. Esta impossibilidade de escolher os leitores é fundamental para quem aprecia a comunicação pública e a participação em conversas (passo a repetição) públicas. É esta característica dos dois formatos que os torna mais respeitáveis aos meus olhos que o Facebook. Dou por mim a torcer o nariz a quem me fala de realidades tão caricatas como «pedir, aceitar ou rejeitar pedidos de amizade». Além da terminologia saloia – um impedimento para os mais sensíveis ao vocabulário – o Facebook parece viver de uma qualquer exigência de privacidade. Só as páginas institucionais escapam ao requisito. No entanto, apesar da suspeita, é certo que não conhecia o modo de funcionamento desta rede social. Assim, decidi abrir uma conta para ver como era. Ainda não tinha activado a pesquisa por e-mail e já tinha seis pedidos de amizade, todos de amigos. Seguiram-se outros, quase todos de pessoas minhas conhecidas. Seguindo a lógica do Twitter e do blogue, ultrapassei a questão terminológica e aceitei todos os pedidos entretanto feitos. Apaguei a conta depois de ler no meu mural um comentário inofensivo mas privado de um querido amigo. Há temperamentos mais reservados que outros. Os mais discretos ou têm uma conta fechada a sete chaves ou não estão no Facebook. Optei pela segunda hipótese e apaguei tudo. Mas qual não é o meu espanto quando vejo que a conta ressuscitara? Apaguei-a pela segunda vez e voltou a aparecer. Quando, qual Glenn Close afogada na banheira, em Atracção Fatal, a conta regressa à vida pela terceira vez, percebi que tinha de ser «eliminada» além de «desactivada». Mesmo assim, o Facebook diz que tal só acontecerá dentro de 14 dias. Gosta do Facebook? Porquê?
Publicado hoje no Metro. Deixe a sua opinião através do 21 351 05 90 no Jazza-me Muito. Os comentários que chegarem até quinta-feira, dia 18 de Novembro, às 15h, vão para o ar, na Rádio Europa, na sexta, dia 19, às 10h35.
... a trautear esta canção muito querida e otovérmica.
Considerado o homem mais influente dos Estados Unidos da América pelos leitores do AskMen.com, Jon Stewart organizou um comício no National Mall em Washington. Duzentas mil pessoas assistiram ao evento que tinha Restore Sanity como mote. Declarações da candidata do Tea Party, Christine O’Donnell, sobre o pecado da masturbação e acusações de racismo dos Democratas aos Republicanos são exemplos do tom extremado e maniqueísta da campanha eleitoral norte-americana. O projecto de recuperar a sanidade não é por isso inoportuno. Num «momento de sinceridade», no discurso de encerramento, Jon Stewart apelou à moderação e afirmou que não tinham estado ali reunidos para ridicularizar ninguém de fé nem para fazer de conta que estava tudo bem. Jon Stewart criticou as reacções exageradas em geral e os que não distinguem terroristas de muçulmanos. Jon Stewart é uma das pessoas certas para apontar a falta de discernimento. Um bom comediante é sensível como poucos à crueldade dos extremos. O seu discurso foi empolgante, mas a mensagem é ingénua. Pedir a alguém que seja moderado é um bocadinho como dizer a quem está nervoso que tenha lá calma, pronto.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 5-11-10
Li no Telegraph, e confesso que com deslumbramento, que o célebre pintor britânico David Hockney desenha flores no iPhone e todas as manhãs envia as suas criações para os seus amigos. Hockney pinta no ecrã do telefone com a ponta do polegar. Brushes é o nome da aplicação que usa e com a qual diz estar muito satisfeito. Há dois anos que estava feliz com o seu iPhone, mas agora apareceu o iPad e com ele a possibilidade de desenhar com a quantidade de dedos que bem entender. Uma das descobertas no iPad foi a possibilidade de recuperar qualquer desenho, quase linha por linha, tocando uma vez no ecrã. Numa galeria de fotografias no site do Telegraph é possível ver os quadros feitos em exclusivo no iPad e que estão em exposição na Fundação Pierre Bergé – Yves Saint Laurent, em Paris, até 30 de Janeiro de 2011. Há tantas questões novas a discutir sobre este novo meio de criação que nem sei por onde começar. Talvez pelo problema clássico de uma obra de arte ser irrepetível. Todos os desenhos de David Hockney enviados por e-mail ou MMS são obras originais e não cópias. A menos que consideremos original aquele que se encontra no iPad do autor. Isto só para começar.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 5-11-10
Sophia Loren
... a pedir desculpa aos meus amigos de Twitter, blogue e vida real - e a quatro ou cinco pessoas recém-aparecidas - por ter apagado uma conta que criei no Facebook. Sou curiosa para conhecer o funcionamento das coisas. Além disso, havia a muito vaga possibilidade de estar enganada a respeito do Facebook. Agora já percebo melhor. Está bem feito (não é por acaso que fizeram um filme sobre o seu criador); é possível tornar a página no que se quiser, mas dá trabalho. Tinha de passar algum tempo de volta daquilo e nos próximos dias, meses e, quem sabe, anos, não posso. O mais complicado de resolver tem que ver com a privacidade. Só não estou certa de o problema estar no sistema ou nas pessoas activas no Facebook, que adquiriram hábitos exóticos de dizer tudo o que lhes passa pela cabeça - um fenómeno observado numa experiência de menos de 24 horas no Facebook. O mais provável, então, é o problema não ter solução. Agora que é ideal para entrar rapidamente em contacto com Atenas, Londres, Buenos Aires, e saber se há aula ou não, lá isso é.
I guess I shoulda known
By the way you parked your car sideways
That it wouldn't last
Prince, Little Red Corvette
Promessas de amor eterno, até que a morte nos separe, têm cinquenta por cento de probabilidades de serem cumpridas. Um em cada dois casamentos em Portugal acaba em divórcio. Segundo dados recentes do Instituto Nacional de Estatística, no passado ano houve 40.391 casamentos e 26.464 divórcios. Será a média de 72 divórcios por dia suficientemente expressiva do modo como os portugueses encaram o casamento? É inevitável pensarmos que não ligam grande coisa à instituição. Parece, no entanto, que vários estudos indicam o desejo de conjugalidade de muitos divorciados. Muitos dos que se divorciam voltam a casar. Habitualmente, com pessoas diferentes. Sobre os motivos que conduzem à separação não há, contudo, estatística que nos ajude. Os inquéritos também não esclarecem o que leva um casal a viver durante dez anos na mesma casa e a divorciar-se meses depois de ter assinado um papel, nem explicam os que se dizem muito apaixonados deixarem um dia de se poder ver. Apesar da incerteza dominante, talvez poucos casem hoje em dia sem ser por amor. É uma exigência civilizada. Um casal que se ama não fica imune às adversidades previstas e aos problemas inesperados da vida, mas está mais bem equipado para sobreviver aos azares. E para celebrar as alegrias. Num casal que não se ama, as circunstâncias saem sempre vitoriosas. Porque quem não ama, não cuida, não apoia, não se interessa. Só faltas graves que justificam a quebra do contrato amoroso. Mais que enunciar uma lista de explicações para o divórcio, há que perceber que na maioria dos casais que se divorcia há um que invoca que casou com alguém muito diferente de si. Por mais que insistam na alegada atracção entre os opostos, a alma gémea continua a ser a mais procurada. Aposto mais na longevidade amorosa das almas parecidas que em uniões entre pessoas com expectativas muito diferentes. Mesmo contando com as excepções que servem afinal para confirmar a regra. O que esperam as pessoas hoje do casamento? Que motivos justificam o divórcio?
Publicado hoje no Metro. Deixe a sua opinião através do 21 351 05 90 no Jazza-me Muito. Os comentários que chegarem até quinta-feira, dia 11 de Novembro, às 15h, vão para o ar, na Rádio Europa, na sexta, dia 12, às 10h35.
Gerhard Isto-Não-É-Uma-Fotografia Richter, Lesende, 1994. Lembrado pela Helena Miranda.
Desde que o Presidente Felipe Calderon tomou posse em Dezembro de 2006 e declarou guerra aos cartéis de droga mexicanos, morreram 28 mil pessoas. Duas mil e quinhentas foram assassinadas em Juarez, a cidade mais violenta do país, que faz fronteira com o Texas e fica no estado de Chihuahua (palavra de honra). Havia uma vaga para chefe de Polícia da municipalidade de Praxedis Guadalupe Guerrero, a poucos quilómetros de Juarez. Marisol Valles Garcia era a única candidata. A estudante de criminologia de vinte anos ocupa assim um lugar muito difícil e nada desejado. Vai liderar uma equipa de 13 mulheres e a sua abordagem ao crime violento da zona é no mínimo original. Em declarações ao canal espanhol da CNN, Marisol Valles Garcia afirmou que não pretende recorrer ao uso de armas. A sua arma é a prevenção. A nova chefe de polícia quer organizar programas de apoio à população nos bairros e nas escolas. O objectivo de tirar o medo aos que se recusam a sair de casa por causa da violência é muito nobre. Só não estou certa da eficácia da atitude maternal da nova chefe de polícia mexicana. Qualquer espectador da série Weeds sabe que só a Nancy Botwin é capaz de lhes dar a volta.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 29-10-10
... os criadores do Angry Birds foram assediados por Hollywood para transformar o jogo num filme. Os dois finlandeses adultos não acharam piada à proposta e optaram por expandir o negócio doutra maneira. Quero o pássaro redondo preto que explode, claro.
Os finlandeses Mikael Hed e Peter Vesterbacka inventaram no ano passado o primeiro jogo concebido especialmente para a tecnologia touch-screen do iPhone e doutras geringonças maravilhosas semelhantes. Desde então, Angry Birds foi adquirido (79 cêntimos por download) por quase sete milhões de utilizadores e a sua versão gratuita (querida mas muitíssimo incompleta) contou com onze milhões de descarregamentos. Os criadores do jogo, inspirados nos filmes da Pixar, tiveram cuidados especiais no conceito da história que o justifica. Sete pássaros sem asas nem patas, com diferentes características, estão zangados com um grupo de porcos verdes que lhes roubou os ovos. Os porcos estão escondidos em diferentes estruturas de madeira, vidro e pedra que os pássaros zangados atacam com a ajuda de uma fisga gigante. Aviso que o jogo cria dependência em almas interessadas em «ganhar estrelas nos ovos». Quem não tiver este ânimo, escapa ao vício mas também não se diverte tanto. Tendo superado todos os níveis do clássico Angry Birds em tempo recorde – chamo a atenção para a inaceitável facilidade do nível onze – busco agora consolo na edição especial de Halloween.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 29-10-10