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Um artigo no Telegraph anunciou a publicação de uma biografia de Romain Gary, da autoria de David Bellos. Para quem não conhece a história de vida de Gary, faço aqui um breve resumo. Nasceu na Rússia e aos 14 anos foi viver para França. Falava russo, yiddish, alemão e polaco. Aprendeu francês e mais tarde inglês. Foi um herói na Segunda Guerra Mundial. Serviu com De Gaulle em Inglaterra e foi piloto no esquadrão Lorraine. Foi ainda diplomata e a sua última mulher foi Jean Seberg. Além de tudo isto, era escritor. E a sua vida literária é fascinante. Ganhou o prémio Goncourt em 1956 com um romance que escreveu num francês que os críticos consideraram fraco. Anos depois, dado que o mesmo prémio só podia ser atribuído uma vez a cada escritor, apresentou a concurso La vie devant soi, sob o pseudónimo de Émile Ajar. Gary publicara já um romance utilizando este nome e enganando o seu próprio editor que julgava estar perante uma revelação. Quando o quiseram entrevistar por causa do Goncourt, quis que um parente se fizesse passar por Émile Ajar, mas o embuste foi descoberto. Jean Seberg suicidou-se em 1979. Gary, em 1980. Deixou uma carta em que dizia: «Aucun rapport avec Jean Seberg». Tinha 66 anos.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 10-12-10
Kate Middleton tem o cabelo demasiado comprido? O tema é sujeito a um inquérito na edição online da Elle inglesa, que apresenta uns meros 14 por cento de leitores descontentes com o volume capilar da futura mulher do Príncipe William de Inglaterra. Entre eles está o célebre estilista Valentino, que considera inaceitável que Kate mantenha «aquela trunfa» nas suas novas funções reais. Perante a indignação do estilista, não vejo outra alternativa a não ser apoiar com fervor os saudáveis cabelos de Middleton. Lembro a propósito o preconceito que leva as mulheres a partir dos cinquenta a optar pelo tão prático quanto desistente cabelo curto. Dominique Browning reflectia, há pouco tempo, no New York Times sobre a pressão da moda, das amigas e das mães para cortar o cabelo. Aos 53 anos, Browning diz que se sente bem assim, «hippie», a recordar a década de 70 em cada escovadela. Contra esta explicação não há argumentos. E Kate Middleton, que nem chegou aos trinta? Valentino entenderá que a função não é compatível com a idade. Qualquer plebeia tem um direito a ser jovem aos sessenta que uma futura rainha aos trinta não tem. Salvemos a noiva de William desta ditadura.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 10-12-10