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Sinceridade ou maneiras?

por Carla Hilário Quevedo, em 28.12.10

Um artigo de Christine Whelan, no Big Questions Online, descreve um comportamento diferente da actual geração pós-adolescente. Whelan conta que os seus alunos, com vinte e poucos anos, parecem ter um problema em ver um aspecto positivo em pessoas ou situações que classificam como sendo completamente negativas. Os ensinamentos dos bisavôs, que recomendavam o silêncio quando não havia nada agradável para dizer, são assim postos definitivamente de parte pelos jovens que afirmam que é impossível conciliar a integridade com as maneiras. A honestidade na interacção social passa assim a ser o aspecto mais importante nestas novas relações em que não há nem delicadeza nem maneiras. Se por um lado considero obrigatório não elogiar quando não há nada de bom a dizer nem ceder em pontos que comprometem uma identidade própria, por outro creio que é não possível viver em comunidade sem sermos empáticos com os outros. Encarar as boas maneiras como um compromisso inadmissível com a verdade sobre si próprio é estar a contribuir para um futuro mais cru para todos. É possível ser honesto e não fazer com que os outros se sintam mal. Basta não nos levarmos tão a sério.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 24-12-10

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publicado às 18:51

Sem medo

por Carla Hilário Quevedo, em 28.12.10

Uma mulher de 44 anos, mãe de três, é notícia porque se descobriu ter uma doença genética rara que num certo momento indefinido da vida lhe destruiu a amígdala. É estudada há mais de vinte anos por investigadores e psiquiatras sobretudo norte-americanos. O estudo mais recente sobre esta mulher peculiar revela que a amígdala é um detector de perigo importante no nosso cérebro. O resultado da condição da paciente é o sonho de qualquer criança: a mãe não tem medo de nada. O pior é também não reconhecer expressões de pânico nas crianças, o que será um inconveniente. Mexe em cobras e adormece a ver filmes de terror japoneses. Um dia teve de ser agarrada porque queria muito fazer festinhas numa tarântula. Ser temerário não é uma virtude. E a imprudência só deixa de o ser em circunstâncias com um desfecho muito bom. Um irreflectido sem sorte está tramado. Mas sorte é o que não falta a esta mulher, que sobrevive apesar da doença que a põe constantemente em perigo de vida. Quando foi assaltada por um homem que a ameaçou com uma faca, revelou uma tal frieza que o criminoso fugiu dela a sete pés, aterrado. Só espero que nunca queira nadar na companhia de tubarões.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 24-12-10

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publicado às 18:45