Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A conversa entre Gregorio De Falco, do porto de Livorno, e Francesco Schettino, o comandante do Costa Concordia, afundado ao largo da ilha de Giglio, revelou a fúria do primeiro e a desorientação do segundo. A fúria foi aplaudida e a desorientação foi interpretada como a atitude de um cobarde. Embora me pareça tudo bem analisado, tenho uma leitura mais prosaica para este caso. Na minha opinião, Schettino, além de ser um cobarde, estava bêbado. Aquela vozinha arrastada vinha de alguém que tinha estado a festejar em serviço. Soubemos, entretanto, que Schettino fez um desvio não autorizado da sua rota. Por que razão o terá feito? Sabemos também que estava na companhia de Domnika Cemorta, moldava, bailarina, loura, cujo nome não fazia parte das listas de passageiros e tripulantes. A partir destas informações, é fácil imaginar que o italiano cedeu à fanfarronice de mostrar umas habilidades à rapariga à hora do jantar. Entre brindes, o Costa Concordia ficou demasiado perto da costa e bateu contra um recife. Alcoolicamente atarantado, Schettino demorou a perceber o que se estava a passar. Ou caiu para dentro de um bote, como afirma, ou quis despachar Domnika dali. Os passageiros? Não sabia o que lhes havia de fazer. Além das acusações por homicídio negligente, naufrágio e abandono de navio, Schettino aparece como a figura do cobarde por excelência: é o rato que abandona logo o barco; é o comandante em terra, quando há mortos e desaparecidos no mar. O homem é uma desgraça, um exemplo de incompetência, o representante máximo da falta de virtudes. Sóbrio e sozinho também não seria um comandante de confiança. Mas seja como for, cobarde ou não, acompanhado ou não, se conduzir, não beba.
Publicado hoje no Metro.