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Era uma vez um leão chamado Malik que vivia no jardim zoológico de Wellington, na Nova Zelândia. Tinha na sua jaula uma barreira de vidro com a espessura de 33 milímetros que o separava das visitas. Toda a gente sabia que o Malik comia carne humana e não era por isso que era menos amado. Um dia apareceu Sophia Walker, de três anos, que pôs as mãos no vidro e ficou ali muito perto, a olhar para um bicho que lhe parecia mesmo um gato gigante. O pai achou logo graça e fez o que já é uma tradição: filmou tudo para descarregar de imediato numa rede social. A mãe incentivou. O momento alto aconteceu quando o Malik começou às patadas no vidro. Para espanto dos pais, Sophia ali ficou, impávida, sem fugir nem chorar. Para espanto dos que não confiam em barreiras de vidro com leões do lado de lá, os pais continuaram a filmar como se nada fosse. Ninguém mostrou ter o mínimo instinto de protecção. Uma falha no vidro e teriam sido o café com leite do Malik, a começar pela Sophia. O mundo tratou a criança como se fosse uma heroína. A própria, na televisão, repetiu sobre si o elogio que lhe dedicaram: «sou muito corajosa». Aconselho uma ida ao psicólogo.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 20-1-12
... sobre o desespero só sei que é um pecado porque nega a esperança, que é a possibilidade do bem. Obrigada pelo belo texto que escreveste.