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Libertação feminina

por Carla Hilário Quevedo, em 31.01.12

A série televisiva Homeland, vencedora do Globo de Ouro de Melhor Série Dramática, tem uma heroína bastante improvável. Claire Danes, ela própria vencedora do Globo de Ouro de Melhor Actriz numa Série Dramática com o papel desempenhado em Homeland, é Carrie Mathison, oficial da CIA que suspeita de um prisioneiro americano libertado pela al-Qaeda. Logo no primeiro episódio percebemos que Carrie está certa na sua intuição. Ficamos a saber também que é doente bipolar. A primeira tentativa de criar uma heroína televisiva não perfeita foi Nurse Jackie. Nancy Botwin, de Weeds, apesar do contexto, é equilibrada e temperada. Mas o descontrolo em geral não é permitido às heroínas de séries de televisão. Pensemos na sobriedade de Alicia Florrick. Gostamos dela assim, casta e fria, ao mesmo tempo que ansiamos por que solte a franga. Parece que é agora. Mesmo assim, Alicia não é uma mulher perturbada. É inteligente, íntegra e comum. Nem provocada chegaria ao excesso de Carrie Mathison. Agora, sim, estamos perante uma mulher complicada, emotiva, despenteada. Ainda por cima não é demasiado bonita, nem muito simpática. Vamos ver se a domesticam. Espero que não.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 27-1-12

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publicado às 19:07

A importância de um pai

por Carla Hilário Quevedo, em 31.01.12

As listas de acções ou de supermercado são promessas a cumprir. Fazemo-las para não nos esquecermos daquilo que queremos fazer ou comprar. Todas as listas são, na verdade, de intenções. No fim de cada ano, é comum fazermos até listas de conselhos a nós mesmos. É um bocadinho ridículo. O melhor é deixar essa lista em particular a cargo de quem gosta de nós. Foi o que fez o escritor F. Scott Fitzgerald, que, em 1933, terminou uma carta à filha, Frances Scott 'Scottie' Fitzgerald, de 11 anos, com uma lista de coisas com que se devia preocupar (quatro), outra de coisas com que não se devia preocupar (várias) e uma outra, breve, de coisas em que devia reflectir. É engraçado, embora não seja surpreendente, que Scott Fitzgerald não impinja à filha os conselhos habituais a meninas. Pelo contrário, não queria que se preocupasse, por exemplo, com rapazes, nem com bonecas, nem com o passado, nem com o futuro. Preferia que Frances se preocupasse com a coragem, a higiene, a eficiência e a equitação. Os motivos de preocupação da filha deviam ser práticos e nobres, porque só estes lhe permitiriam ser livre. Vale a pena ler este testamento precioso em listsofnote.com.

 

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 27-1-12

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publicado às 19:02