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Tendência Angelina Jolie - para a noite e também para o dia, n'O Meu iPad Veste Prada.
No início da sexta temporada, Dexter comenta, só para nós ouvirmos, que um homem talvez seja capaz de mudar; um monstro, não. Thomas Willmore, juiz num tribunal do Utah, parece ter apostado na primeira ideia ao adoptar uma estratégia original para reabilitar jovens que tenham cometido o primeiro crime. Além da pena de prisão, o juiz Willmore dá livros aos condenados e pede-lhes que escrevam e lhe mostrem uma página ou duas sobre o livro que acabaram de ler. A obra que mais recomenda é, nem de propósito, sobre um caso de reabilitação: «Les Miserábles, de Victor Hugo. Willmore não é ingénuo ao ponto de acreditar que uma pessoa mude de comportamento por causa de um livro, mas as redacções que lhe chegam indicam que a reflexão sobre a própria condição do preso e o acto cometido, que o levou à cadeia, tem efeitos benéficos nalguns criminosos. Parece claro que o que importa não é apenas a leitura feita pelo preso, mas o facto de pensar sobre o que lê, escrevendo sobre si. Ainda por cima, tem como leitor privilegiado aquele que lhe deu a oportunidade de se reabilitar. Tiremos duas conclusões: precisamos de juízes que leiam e não é a leitura que salva: é o estudo.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 24-2-12
Martin Scorsese’s Film School: The 85 Films You Need To See To Know Anything About Film
* E para duas semanas de promoções de DVD na Fnac. Tudo a cinco euros!
Contagion (macacos me mordam se não é um filme de propaganda para limpar a imagem da OMS, depois do fracasso da epidemia 'se-acontecer-será-assim' da Gripe A).
Beber ou não beber água da torneira, eis a questão com que o Parlamento se ocupou nos últimos dias. Em Novembro, o Partido Socialista apresentou uma proposta para acabar com as garrafas de água mineral nas reuniões parlamentares. Os motivos tinham que ver com os milhares de garrafas e copos de plástico usados. O Conselho de Administração do Parlamento fez um estudo e alega que seriam necessários 2730 euros «para o enchimento, limpeza, colocação e arrumo dos vasilhames». O cálculo para beber água da torneira incluiu os custos de pessoal e contrasta com os 259,20 euros por mês que custa água engarrafada. Quer isto dizer que a Assembleia não tem cozinha nem funcionários? Se é assim, então como aparecem e desaparecem as garrafas de água e os copos das salas de reunião? Segundo noticia o Público, «o Conselho de Administração também considerou o custo dos jarros em si, avaliados em 4680 euros». Imagino que os bebedouros tenham sido rejeitados por serem mais dispendiosos. Quanto ao orçamento para os jarros, fico a pensar que o terão pedido à Torres & Brinkmann. Faço dois pedidos no sentido de resolver o super-problema. O primeiro é o apelo à capacidade de síntese dos deputados. Já todos assistimos às suas intervenções nas comissões, e sabemos que é possível dizerem o que pensam em menos tempo. A redução do número de horas nas reuniões levará à escassez desejada de gargantas secas. O segundo apelo é dirigido ao bolso e à liberdade de escolha dos deputados. Quem quiser beber água da torneira, é livre de o fazer. Quem preferir beber água engarrafada, pode comprá-la a um preço simpático no bar da Assembleia. Assim, cada um trata de si, enquanto poupa dinheiro aos contribuintes. De nada.
Publicado hoje no Metro.
... there was an internal injunction to be good. Now the injunction is to be happy, or to be enjoying yourself. Adam Phillips, 2010
To be always sitting around in sadness
When you could be learning the steps of gladness
George Gershwin, 1951
Correu a notícia de que o corpo de Whitney Houston cedera ao excesso de soníferos na banheira de uma casa de banho de um hotel de luxo em Beverly Hills. Podia ter morrido asfixiada no próprio vómito, como Jimi Hendrix, ou sufocada com a tampa de um frasco de colírio, que tentara abrir com a boca, como Tennessee Williams. Ou ainda, deitada na cama, adormecida para sempre, como Amy Winehouse. A estrela terá morrido, não afogada, mas com uma overdose de comprimidos receitados pelo médico misturados com álcool. Whitney Houston não era só mais uma grande cantora: era a digna sucessora de vozes únicas, como as de Chaka Khan ou Dionne Warwick. Era uma Aretha Franklin mais bonita e elegante. Nem Christina Aguilera, nem Beyoncé, nem Mariah Carey fazem parte da linhagem nobre de grandes vozes femininas do rythm and blues e da soul: são boas vozes, mas aparecem no mundo desligadas desta história. Basta vermos que só Whitney Houston cantou o clássico de Chaka Khan, I’m Every Woman. E merece bem a grandiosidade e a bazófia expressas no tema. A família dos vozeirões com alma ainda não nos deu uma sucessora à sua altura. E, por favor, não me falem da Adele.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 17-2-12
O filósofo Peter Singer e a bioquímica Agata Sagan escreveram um artigo assustador no Opinionator, uma secção de opinião online do The New York Times. Aí afirmam que, visto estar comprovado que a química do cérebro afecta a conduta das pessoas, se descobríssemos a fórmula para uma pílula que melhorasse a nossa conduta moral, não devíamos duvidar de a usar. Desde que o nosso comportamento seja bom, não interessa se é natural ou medicamente induzido. Seria, então, desejável saber que pessoas têm uma descompensação química que as leva a ser homicidas, por exemplo. O conhecimento seria útil, porque a propensão poderia ser controlada mediante a toma da tal pílula da moralidade. A probabilidade parece confirmar aqueles livros de ficção científica em que existe um mundo normalizado que acaba mal. Por outro lado, temos antecedentes na lei que estão mais ou menos relacionados com esta ideia de prevenção. Um médico pode denunciar um paciente que lhe confesse a intenção de cometer um crime. Uma pessoa com tendências violentas pode ser internada compulsivamente. A questão é saber se temos o direito de obrigar as pessoas a ser boas. E, mais ainda, se temos esse direito, por que razão o temos.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 17-2-12