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A notícia de que o Irão vai abolir as execuções por lapidação animou os comentadores das edições dos jornais online. Imagino que os crentes no progresso civilizacional tenham uma atitude benévola com um país que não respeita os direitos humanos. Devem pensar que há esperança. O caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani, uma mulher de 43 anos, condenada à morte por adultério e cumplicidade no homicídio do marido, suscitou uma vaga de indignação por todo o mundo. A revolta parece ter encontrado eco nesta abolição, pois Sakineh já não será condenada a morrer por apedrejamento. Está previsto que morra enforcada. É provável que aqueles que aplaudiram a peculiar decisão iraniana não tenham lido a notícia até ao fim. Além do mais, segundo o Telegraph, as anunciadas reformas no sistema penal iraniano não dão sequer certezas de abolir de vez as execuções por apedrejamento. Mas a decisão é útil, na medida em que nos leva a questionar a função da sharia, que os tribunais no Irão, e noutros países do mundo, defendem como a lei islâmica a que os muçulmanos devem obedecer. O que até há pouco nos era apresentado como uma lei inalterável, baseada nas escrituras sagradas, segundo a interpretação certa de líderes religiosos, aparece afinal como susceptível de mudança. Resta sabermos se tudo não passa de uma operação de charme num momento em que o Irão pretende retomar as conversações sobre o seu programa nuclear. Recuperemos a este propósito uma declaração importante do presidente Mahmoud Ahmadinejad, que em tempos afirmou que «Israel deve ser apagado do mapa». A pele de cordeiro não serve a lobos que só enganam quem quer ser enganado. Ou tem algum interesse nisso.
Publicado hoje no Metro.