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Correu a notícia de que o corpo de Whitney Houston cedera ao excesso de soníferos na banheira de uma casa de banho de um hotel de luxo em Beverly Hills. Podia ter morrido asfixiada no próprio vómito, como Jimi Hendrix, ou sufocada com a tampa de um frasco de colírio, que tentara abrir com a boca, como Tennessee Williams. Ou ainda, deitada na cama, adormecida para sempre, como Amy Winehouse. A estrela terá morrido, não afogada, mas com uma overdose de comprimidos receitados pelo médico misturados com álcool. Whitney Houston não era só mais uma grande cantora: era a digna sucessora de vozes únicas, como as de Chaka Khan ou Dionne Warwick. Era uma Aretha Franklin mais bonita e elegante. Nem Christina Aguilera, nem Beyoncé, nem Mariah Carey fazem parte da linhagem nobre de grandes vozes femininas do rythm and blues e da soul: são boas vozes, mas aparecem no mundo desligadas desta história. Basta vermos que só Whitney Houston cantou o clássico de Chaka Khan, I’m Every Woman. E merece bem a grandiosidade e a bazófia expressas no tema. A família dos vozeirões com alma ainda não nos deu uma sucessora à sua altura. E, por favor, não me falem da Adele.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 17-2-12
O filósofo Peter Singer e a bioquímica Agata Sagan escreveram um artigo assustador no Opinionator, uma secção de opinião online do The New York Times. Aí afirmam que, visto estar comprovado que a química do cérebro afecta a conduta das pessoas, se descobríssemos a fórmula para uma pílula que melhorasse a nossa conduta moral, não devíamos duvidar de a usar. Desde que o nosso comportamento seja bom, não interessa se é natural ou medicamente induzido. Seria, então, desejável saber que pessoas têm uma descompensação química que as leva a ser homicidas, por exemplo. O conhecimento seria útil, porque a propensão poderia ser controlada mediante a toma da tal pílula da moralidade. A probabilidade parece confirmar aqueles livros de ficção científica em que existe um mundo normalizado que acaba mal. Por outro lado, temos antecedentes na lei que estão mais ou menos relacionados com esta ideia de prevenção. Um médico pode denunciar um paciente que lhe confesse a intenção de cometer um crime. Uma pessoa com tendências violentas pode ser internada compulsivamente. A questão é saber se temos o direito de obrigar as pessoas a ser boas. E, mais ainda, se temos esse direito, por que razão o temos.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 17-2-12