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No início da sexta temporada, Dexter comenta, só para nós ouvirmos, que um homem talvez seja capaz de mudar; um monstro, não. Thomas Willmore, juiz num tribunal do Utah, parece ter apostado na primeira ideia ao adoptar uma estratégia original para reabilitar jovens que tenham cometido o primeiro crime. Além da pena de prisão, o juiz Willmore dá livros aos condenados e pede-lhes que escrevam e lhe mostrem uma página ou duas sobre o livro que acabaram de ler. A obra que mais recomenda é, nem de propósito, sobre um caso de reabilitação: «Les Miserábles, de Victor Hugo. Willmore não é ingénuo ao ponto de acreditar que uma pessoa mude de comportamento por causa de um livro, mas as redacções que lhe chegam indicam que a reflexão sobre a própria condição do preso e o acto cometido, que o levou à cadeia, tem efeitos benéficos nalguns criminosos. Parece claro que o que importa não é apenas a leitura feita pelo preso, mas o facto de pensar sobre o que lê, escrevendo sobre si. Ainda por cima, tem como leitor privilegiado aquele que lhe deu a oportunidade de se reabilitar. Tiremos duas conclusões: precisamos de juízes que leiam e não é a leitura que salva: é o estudo.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 24-2-12