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Ainda está fresca na nossa memória a confusão entre tirania e deficiência motora no caso da conversa filmada sem ninguém saber entre o ministro das finanças alemão, Wolgang Schäuble, e o seu homólogo português, Vítor Gaspar. Na altura, correram comentários irados de observadores políticos e utilizadores de redes sociais sobre a submissão detestável do nosso ministro, obrigado a curvar-se perante a Alemanha todo-poderosa. A explicação, como sabemos, está na cadeira de rodas a que Schäuble está condenado e que obriga gente mais fraca das costas a ficar de joelhos ao pé dele, só para conversar. A interpretação enganosa partiu da ideia de que somos as pobres vítimas de odiosos carrascos, escravos dos senhores da Europa, devedores com credores à perna. Só a última é uma realidade. Na verdade, podíamos estar pior. Podíamos ser a Grécia ou o Burundi. Mas não somos e não há realmente nada de ofensivo nestas imagens. Não é nada pessoal: é só política. Tal como é política a indignação relativamente às comparações. O meu coração está com os gregos, que Schäuble, outra vez na berlinda, parece não ter em consideração. Como sabemos? Numa sessão do parlamento alemão em que se discutia o resgate grego, o ministro das finanças foi apanhado pelas câmaras a jogar Sudoku no seu iPad. Seria um sonho tornado realidade se estivesse a jogar Angry Birds, mas nada é perfeito. A imprensa local e internacional acusou Schäuble de desrespeitar os gregos. Como é possível estar a brincar no iPad com o barco a afundar? Mais uma vez, o ministro é acusado de ser um monstro quando não fez nada que qualquer funcionário não faça no seu local de trabalho. Ao menos não estava no Facebook. Sempre é mais digno o Sudoku.
Publicado hoje no Metro.
Brigitte Bardot
... a virtude da temperança é bastante misteriosa, mas há dias apareceu o caso de uma pessoa que tem a capacidade de aprender a ser equilibrada, quando alguém de quem gosta muito lhe indica que está a ter um comportamento que não contribui para a felicidade de ninguém. A sua aprendizagem não é fruto da inteligência (é inteligente, mas não é isso que faz com que aprenda), mas de uma disposição para procurar o equilíbrio. É engraçado como esta conversa também é sobre justiça. O problema da temperança é não ser de fácil reconhecimento. É preciso tempo para perceber se uma pessoa é temperada ou apenas fria ou insegura e frágil. Mas, no fundo, é para isso que cá estamos: para vermos isto tudo nos outros e em nós mesmos também.