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Desde que a União Europeia impôs medidas normalizadas para os legumes que não via nada parecido. Apareceu no meio do saco das batatas, uma maior com um formato que fazia lembrar um patinho de brincar. Rimo-nos com aquilo, chamámos-lhe batata pato, numa homenagem frívola a Wittgenstein, e tirámos a fotografia da praxe. Há dias li uma notícia no site da Artinfo sobre um McNugget encontrado numa refeição de 99 centavos, que parecia a efígie de George Washington. A proprietária oportunista do bocado de frango panado pô-lo à venda no eBay com uma base de licitação de 100 dólares. O Readymade McNugget chegou aos 356 dólares. Ao contrário da batata pato, o panado Washington requer instruções. Dificilmente me lembraria do perfil do Presidente dos Estados Unidos se o texto não desse as indicações para a verificação. O mais curioso é o reconhecimento ser possível a partir de um retrato de George Washington feito com uma bandeira dos Estados Unidos por Marcel Duchamp, para a Vogue, em 1943. O panado é parecido com o retrato, tal como a batata pato o era com um patinho de borracha. Nenhum é uma obra de arte, mas o McNugget foi vendido como se fosse. Mas que grande aldrabice.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 2-3-12
Brigitte Bardot
... preocupada com as declarações de José Gil, director por um dia do Público, sobre aquilo a que chama as «virtudes do vazio». Para José Gil, «no nosso país» (com minúscula, coitado), há tralha a mais: «O nosso país está demasiado 'cheio' (de informações, imagens, bugigangas de toda a espécie) e quanto mais se enche mais se enterra o vazio essencial a que não se dá a importância que tem». Entendo estas declarações como um ataque desavergonhado e antidemocrático à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão. Aquilo por que José Gil anseia é um País (apesar das decepções, mantenho a maiúscula) sem as 'inutilidades' que preenchem espaços que, segundo defende, deviam estar reservados ao nada, ao silêncio, ao vazio; enfim, para a comodidade e paz de espírito dos que estão cansados deste mundo caótico, confuso, de ideias falsas que, graças ao demónio da internet, agora circulam como nunca. Ah, se ao menos se erradicasse «o que está a mais», que mundo feliz seria este... Experimentemos, então, com as ideias de José Gil. Ou o critério do que é ou não «bugiganga» é definido pelo filósofo?