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Começo por dizer que não tenho nada contra os dias comemorativos seja do que for. Nenhum me é particularmente desagradável, nem o Dia dos Namorados, com ursinhos queridos e cor-de-rosa a mais. Há, contudo, uma diferença a assinalar no modo como celebramos os Dias com maiúscula. Quando só havia televisão, rádio e jornais, as homenagens devidas nos Dias Certos eram motivo de reportagens, preenchiam espaços na antena e no papel. O tempo ocupado a entrevistar pais no Dia do Pai, em pleno noticiário televisivo, passou a ser maior. Vemos crianças de colo a serem entrevistadas, como se delas se esperasse que soubessem mais do que três ou quatro palavras. A ideia deve ser que repitam «pai» para comoção dos que estão lá em casa a ver. Mas até aqui tudo bem. Os meios de comunicação ao nosso alcance são fáceis de controlar com o telecomando ou virando a página. Mas a exploração da comemoração adquiriu um novo aspecto com o aparecimento das redes sociais, em que clicar para fechar não se parece com o zapping nem com a mudança de página. Penso que a solução para esses dias é evitar as redes concentradas nos afectos, como é o caso do Facebook. Foram raros os que não festejaram intensamente o Dia do Pai no Facebook, causando assim a impressão de que o mundo acabaria no dia seguinte. A overdose de relatos pessoais acompanhados de fotografias dos progenitores só é possível em meios virtuais em que há muita gente ligada entre si. O resultado é estarmos horas a ver os pais uns dos outros. Não ter uma conta de Facebook é a solução radical. Entretanto, chegámos a sexta-feira (yeah), o mundo ainda não acabou e os pais de segunda-feira foram deixados em paz. Ainda bem que não é Natal todos os dias.
Publicado hoje no Metro.
... apareceu há dias a ideia velha de que autores misóginos como Philip Larkin, que fora mencionado, não valiam a pena ser lidos. A ideia é aliás tão velha que cheira a mofo, mas é repetida por gente nova e espevitada que acredita que o carácter do autor tem de contar para a sua obra. Na verdade, não querem ler um bom livro: querem um 'amigo' que parece ouvir e não fala. Há muita gente assim. O resultado desta barbaridade está à vista, com escritores medíocres a perceber que se safam por declararem publicamente o seu amor pelas mulheres, pelos animais, pelos bebés de colo; pela humanidade, com os seus carrascos incluídos. Assim, sim, merece ser lido... por gente nova e espevitada que não merece ler Aristóteles, Tácito, Larkin, Joyce, Nietzsche, etc.