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A memória não funciona como gostaríamos nem é um arquivo a que acedemos de acordo com a nossa vontade. Só pode ser por isto que nos lembramos dos momentos desagradáveis. A solução para dominar a incapacidade de intervenção na nossa própria memória estará num modo qualquer de educação, em que os momentos maus são circunscritos à sua devida importância, que também têm, libertando espaço na cabeça para as coisas boas da vida. Isto tudo porque não compreendo a ansiedade de comemorar o naufrágio do Titanic. Faz amanhã 100 anos que o transatlântico afundou, após ter chocado com um icebergue no Atlântico Norte, na noite de 14 para 15 de Abril de 1912. Somos uma espécie capaz de celebrar um terrível naufrágio que vitimou 1500 pessoas com documentários, filmes em 3D, t-shirts e canecas. Um dos eventos comemorativos da tragédia consiste na recriação da viagem que o Titanic iniciou a 10 de Abril de 1912. O Balmoral partiu há dias do mesmo porto em Southampton do que o desafortunado Titanic. Entre os passageiros estão descendentes de sobreviventes e vítimas do naufrágio e peritos na história. A recriação é levada ao extremo com a presença de uma banda que tocará temas que há cem anos se ouviam no Titanic. Uma das histórias mais célebres – e vimo-la no filme de James Cameron, por isso deve ser verdadeira – é a de que a banda não parou de tocar enquanto o navio se afundava. Soubemos também que a empresa Miles Morgan Travel, autora da ideia que comoveu 1309 pessoas, cobrou cerca de 7130 euros por cada entrada no Balmoral. Tudo para reviverem um momento muito triste da nossa história. Só espero que não tenham contratado o comandante Francesco Schettino para animar definitivamente a viagem.
Publicado hoje no Metro.