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Se eu fosse Primeira Cidadã de Portugal, à boa maneira de Augusto, em Roma, embora no tempo presente, acabava com as praxes académicas, o Acordo Ortográfico e as touradas. Dou o exemplo de um cargo romano (que nenhuma mulher exerceu, pelo que teria de me transformar por instantes num homem) por causa da sua natureza, que permitia a tomada de decisões sem usar muitas palavras. Peço desculpa pela falta de sentido democrático, mas garanto que não precisava de seis meses para pôr ordem na casa. Um dia, o país acordava sem haver aqui a possibilidade de oprimir o próximo, pelo menos destas três formas. As universidades não poderiam receber os alunos à pancada, porque correriam o sério risco de fechar portas. As praxes seriam substituídas por recepções calorosas aos novos alunos. Não seria exigido aos cidadãos que mudassem a sua ortografia por alguém ter decidido, numa atitude déspota (e em democracia!), de cima para baixo, que seria «bom para a economia». Também ninguém poderia oprimir um animal para satisfação de outros tantos que se dizem humanos. Estaríamos, então, em condições para voltar à democracia e resolver todos os outros problemas que temos.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 13-4-12
A notícia de que duas raparigas terão sido espancadas por se recusarem a participar numa praxe em Coimbra indignou muita gente, mas não provocou os efeitos que esperava. O crime terá ocorrido em Outubro e, ao que parece, só agora um tal Conselho de Veteranos – haja paciência! – «abriu um inquérito» para apurar responsabilidades. Sim, em Março... Ora, não há conselho nenhum a ter de apurar nada. O caso é de Polícia e tribunais. Ou a Universidade de Coimbra acredita que é um Estado à parte, que obedece às suas próprias leis? É esperado da universidade que assuma as suas responsabilidades. E a expulsão dos infractores é o mínimo que se espera de qualquer instituição de ensino respeitável. Proponho a seguinte solução para acabar de vez com as estúpidas praxes académicas, meras desculpas para humilhar e, pelos vistos, agredir o próximo: a suspensão de quaisquer apoios financeiros estatais às universidades que são coniventes com estas práticas. O Estado não pode estar a contribuir para a manutenção de instituições que fecham os olhos a actos criminosos. Não há ninguém com sentido de decência no país, que ponha um ponto final nestas manifestações de violência cobarde?
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 13-4-12