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... como aconteceu no caso de José Miguel Júdice, que apontou um caso público de má educação. Só me parece benevolente quando diz que 'a última coisa que um homem deve perder é a boa educação'. Pressupõe que, neste caso, o mal-educado alguma vez a teve.
A percepção de que está tudo pior do que antes é seguida de vozes que se prontificam a enumerar as ditas coisas boas: o frigorífico, a pílula, o iPhone. As coisas boas também nos trouxeram até hoje, mas não são compensações de nenhuma perda ética e moral. São resultados do avanço da ciência e da tecnologia ao serviço das pessoas. Não há época que não se queixe da sua decadência, mas o ruído de fundo pressupõe de igual modo a hipótese de uma melhoria. Tudo isto funciona muito bem para quem acredita no progresso da humanidade. Não é o meu caso. Acredito que tudo se mantém na mesma há muitos séculos, só que hoje vivemos mais tempo e temos brinquedos mais giros. O que muda é a relevância que damos a certos comportamentos. Há poucas décadas a boa educação era essencial e a mesquinhez era socialmente condenada. Segundo observo, a sociedade actual é fraca na hora de punir a má educação ou a desonestidade. Não é evidente, mas esta é uma conversa sobre justiça: um problema de todos os tempos.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 27-4-12
Dina ou Filomena?
Há dias correu a notícia de que Otelo Saraiva de Carvalho anunciava que era bígamo numa biografia recentemente publicada. Um pouco por toda a imprensa, Otelo assumia a bigamia. Como é evidente, fui ler a notícia. A situação matrimonial de Otelo, que fez o favor de tornar pública, é afinal a seguinte: de segunda a quinta vive com Filomena. De sexta a domingo partilha corpo e espírito com Dina, a mulher com quem casou. Se isto é bigamia, sou a Ava Gardner em 1954, naquele filme sexy, The Barefoot Contessa. Otelo tem duas mulheres, uma com quem casou e a outra com quem passa os dias da semana. Bigamia seria, como o próprio grego indica, se tivesse casado com duas mulheres ou se vivesse em união de facto com as duas. Neste caso, há só uma partilha de uma pessoa entre duas, como se Otelo fosse filho de mães separadas, ou um pai viúvo partilhado por filhas ocupadas, ou um animal de estimação que se vê ora numa casa ora noutra após um divórcio difícil entre dois activistas dos direitos dos animais.
Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 27-4-12