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... entretanto, fui ali dar uns mergulhos para ver se não lia a quantidade de boçalidades sobre José Hermano Saraiva, mas ainda assim esbarrei com duas ou três. Houve gente que, tal a ânsia de dizer mal do homem, até se preocupou em fazê-lo no próprio dia da sua morte. Fiquei chocada com isto. Insisto em manter uma dose de crença na humanidade e depois tenho estas supresas. Mudando de assunto, e tentando não falar de novo sobre Breaking Bad, que tem uma grande banda sonora, li aqui um lugar comum sobre a amizade. É costume dizer-se que os "amigos" desaparecem quando as coisas correm mal. É verdade. Mas há que não esquecer que os ditos "amigos" fazem exactamente o mesmo quando tudo corre bem.
Brigitte Bardot, por Katy Lasch, 1955
... a pensar no que seria o governante ideal nos dias de hoje. Penso que teria de ser alguém com genuínas boas intenções e muita imaginação. Teria de conciliar um espírito prático extremo a uma criatividade galopante. Ter a exacta noção dos problemas e, ao mesmo, tempo, ser flexível ao ponto da quase amoralidade nas suas relações com as pessoas: ser próximo de toda a gente e ninguém realmente o conhecer. Ninguém saber o dia do seu aniversário, sobre o qual de preferência mentiria, porque ninguém tem nada a ver com a sua vida privada, que é tudo o que lhe diz directamente respeito. O governante ideal saberia usar a mentira, porque ela faz parte do que é humano, mas não mentiria ao povo sobre aquilo que lhe diz directamente respeito, que é quase tudo. Teria de ser distante dos seus pares e empático e compreensivo com o país que serviria. A distância mantê-lo-ia imune aos escândalos. O governante ideal não tem amigos. A distância também lhe permitiria manter relações cordiais com todos, da esquerda à direita. Nunca, mas nunca, iniciaria um conflito que não fosse inevitável, porque saberia que só os tolos fazem a guerra com qualquer um por qualquer motivo. Se calhar, o governante ideal é um sociopata. Ou só uma pessoa com bom senso.
Sir Lawrence Alma-Tadema, Tarquinius Superbus, 1867
Há dias descobri a síndrome das papoilas altas, através desta imagem de um quadro de Alma-Tadema. Fiquei curiosa e fui ler as passagens de Heródoto e Aristóteles em que se referiam a uma história que conhecia por Tito Lívio. Percebi que Tito Lívio adaptou o que conta a respeito do rei etrusco Tarquínio, o Soberbo, a partir de uma história antiga, com outros protagonistas.
Heródoto conta, nas Histórias, V, 92ζ, que o tirano de Corinto, Periandro, andava sedento de sangue desde que se tornara próximo de Trasíbulo, o tirano de Mileto. Um dia, resolveu enviar um mensageiro para que Trasíbulo explicasse o que deveria fazer para governar melhor a cidade e torná-la mais segura. Trasíbulo foi passear com o enviado de Periandro para um campo de espigas e perguntou ao mensageiro o que queria. Trasíbulo, sem dizer uma palavra, andava pelo campo e, mal via uma espiga mais alta do que as outras, cortava-a. Quando o mensageiro voltou e contou que o tirano de Mileto decerto estaria com o juízo afectado, porque não abrira a boca e destruíra o melhor do seu campo, Periandro, como refere Heródoto, entendeu que Trasíbulo o estaria a aconselhar a matar os cidadãos mais ilustres da cidade. Aristóteles faz uma referência ao episódio na Política, 1284a26-36, e associa o método do corte das espigas mais altas ao apesar de tudo menos definitivo ostracismo, um método de rápida tomada do poder praticado por Atenienses e Persas. Há que ler o que diz o cauteloso Aristóteles em 1284b quando se refere à injustiça do método, e também quando aconselha o afastamento daqueles que, por serem excelentes, nunca poderiam ser súbditos porque estariam destinados a reinar.
Quanto às papoilas (até agora tivemos espigas de um cereal anónimo), elas aparecem em Tito Lívio, no episódio que vemos na imagem do quadro de Lawrence Alma-Tadema. Em vez de Periandro temos Sexto, o filho de Tarquínio o Soberbo; e em vez de Trasíbulo, temos o próprio Tarquínio a dar o mesmo conselho silencioso ao filho. O violento Sexto acabaria por ser o responsável pelo fim da monarquia em Roma, mas não quero falar sobre isso agora.
... ó Bosão, Bosão, que vida é a tua... Isto não é bem Julho, tal como muitas universidades privadas em Portugal também não são bem universidades. Os vários relatos do Miguel Castelo Branco servem para nos esclarecer acerca das actividades mais que duvidosas dessas instituições. Aproveito para dizer que, em Portugal, andam sempre preocupadíssimos com o amiguismo, quando às vezes o que importa saber é quem boicota a vida dos outros e por que razão o faz, porque isso é frequente e também contribui para a nossa miséria actual. Gente sem qualidade profissional e humana escolhe gente igual a ela ou pior do que ela. Sempre foi assim e sempre será. Voltando ao caso Lusófona, estamos agora a assistir a um fenómeno curioso que consiste em passar a batata quente. O administrador da universidade veio dizer que o caso de Relvas é único, que divertido, apontando para o problema do ministro debilitado e desviando as atenções da instituição. Se houve favorecimento, foi só àquele aluno, olhem para ele... Não defendo Miguel Relvas, mas o homem também é o seu ethos (que significa habitat, sítio, meio).
A Prada imaginou estas sandálias delicadas com umas pequenas asas para verões a sério, que me fizeram logo pensar em Mercúrio, mas que afinal são uma referência aos automóveis americanos da década de 50. Será que funcionam como os sapatinhos da Dorothy?
Começa tudo por um simples facto, que ninguém, suponho, negará: o Estado é em larga medida irresponsável (coisa que nenhum particular normalmente se permite). Se o Estado não fosse irresponsável não acumularia, como acumulou, o défice doméstico e a dívida externa que hoje pesam sobre os portugueses. A imprensa e a televisão e, hoje, o próprio Governo não param de revelar o delírio e a perversidade com que se gastou o dinheiro público durante mais de 30 anos. Com ou sem influência dos partidos (principalmente do PS e do PSD), resta que nem mandantes, nem autores sofreram o menor incómodo por causa disso e que a lei nunca puniu os presumíveis crimes que, pelo caminho, cometeram. Não consigo descobrir aqui qualquer equidade.
Vasco Pulido Valente, hoje, no Público, sobre a decisão do Tribunal Constitucional.
Marilyn Monroe (fotografia de Cecil Beaton)
... honestamente que não percebo como é que a decisão umbiguista (finalmente, após tantos anos de 'umbiguismo' pela blogosfera fora, é possível usar a palavra com rigor) do Tribunal Constitucional implica mais cortes na saúde e na educação. Porque reparem, se é para taxar os contribuintes, inventar novas contas para pagar (renovação da carta de condução a partir dos 25 anos, anyone?), ou fazer cortes em salários e pensões, não é preciso ter a imaginação de Tolkien. Qualquer socialista com uma escolaridade básica é capaz de chegar lá. A questão agora é outra e são, na verdade, duas: extinção de fundações e institutos públicos e renegociação das PPP. É difícil, mas não tenham medo, homens. Vejam uns episódios de Breaking Bad e depois falamos sobre o que é ter problemas.
O conceito Pre Fall é adequado à meteorologia incerta que parece ter tomado conta das estações do ano. Outubro, és tu? Com as novas realidades, chegam novas necessidades e novas maneiras de vender. Adoro viver em 2012.
... entre a licenciatura lusófona de Miguel Relvas e a inconstitucionalidade baseada no princípio da equidade impossível, felizmente, inventaram o DVD e com ele a série Breaking Bad, que não é nova, mas que me tinha escapado. É uma daquelas séries em que todas as personagens são excepcionalmente boas, como o overqualified high-school teacher Walter White e o cunhado, Hank Schrader, o agente compreensivo do DEA. É uma série que, além do mais, apresenta uma solução radical para um problema definitivo. Se não fosse a ficção de Vince Gilligan, tinha emigrado na quarta-feira. Ah, a greve dos pilotos, maldição! E ainda me faltam 9 mil milhões de caracteres e mais duas temporadas de BrBa. Não se deprimam com a choraminguice burguesa de Mad Men. Se gostam de homens a sério e diálogos bem escritos, vejam Justified e Breaking Bad.