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Sir Lawrence Alma-Tadema, Tarquinius Superbus, 1867
Há dias descobri a síndrome das papoilas altas, através desta imagem de um quadro de Alma-Tadema. Fiquei curiosa e fui ler as passagens de Heródoto e Aristóteles em que se referiam a uma história que conhecia por Tito Lívio. Percebi que Tito Lívio adaptou o que conta a respeito do rei etrusco Tarquínio, o Soberbo, a partir de uma história antiga, com outros protagonistas.
Heródoto conta, nas Histórias, V, 92ζ, que o tirano de Corinto, Periandro, andava sedento de sangue desde que se tornara próximo de Trasíbulo, o tirano de Mileto. Um dia, resolveu enviar um mensageiro para que Trasíbulo explicasse o que deveria fazer para governar melhor a cidade e torná-la mais segura. Trasíbulo foi passear com o enviado de Periandro para um campo de espigas e perguntou ao mensageiro o que queria. Trasíbulo, sem dizer uma palavra, andava pelo campo e, mal via uma espiga mais alta do que as outras, cortava-a. Quando o mensageiro voltou e contou que o tirano de Mileto decerto estaria com o juízo afectado, porque não abrira a boca e destruíra o melhor do seu campo, Periandro, como refere Heródoto, entendeu que Trasíbulo o estaria a aconselhar a matar os cidadãos mais ilustres da cidade. Aristóteles faz uma referência ao episódio na Política, 1284a26-36, e associa o método do corte das espigas mais altas ao apesar de tudo menos definitivo ostracismo, um método de rápida tomada do poder praticado por Atenienses e Persas. Há que ler o que diz o cauteloso Aristóteles em 1284b quando se refere à injustiça do método, e também quando aconselha o afastamento daqueles que, por serem excelentes, nunca poderiam ser súbditos porque estariam destinados a reinar.
Quanto às papoilas (até agora tivemos espigas de um cereal anónimo), elas aparecem em Tito Lívio, no episódio que vemos na imagem do quadro de Lawrence Alma-Tadema. Em vez de Periandro temos Sexto, o filho de Tarquínio o Soberbo; e em vez de Trasíbulo, temos o próprio Tarquínio a dar o mesmo conselho silencioso ao filho. O violento Sexto acabaria por ser o responsável pelo fim da monarquia em Roma, mas não quero falar sobre isso agora.
... ó Bosão, Bosão, que vida é a tua... Isto não é bem Julho, tal como muitas universidades privadas em Portugal também não são bem universidades. Os vários relatos do Miguel Castelo Branco servem para nos esclarecer acerca das actividades mais que duvidosas dessas instituições. Aproveito para dizer que, em Portugal, andam sempre preocupadíssimos com o amiguismo, quando às vezes o que importa saber é quem boicota a vida dos outros e por que razão o faz, porque isso é frequente e também contribui para a nossa miséria actual. Gente sem qualidade profissional e humana escolhe gente igual a ela ou pior do que ela. Sempre foi assim e sempre será. Voltando ao caso Lusófona, estamos agora a assistir a um fenómeno curioso que consiste em passar a batata quente. O administrador da universidade veio dizer que o caso de Relvas é único, que divertido, apontando para o problema do ministro debilitado e desviando as atenções da instituição. Se houve favorecimento, foi só àquele aluno, olhem para ele... Não defendo Miguel Relvas, mas o homem também é o seu ethos (que significa habitat, sítio, meio).